A cor de setembro

Dezembro é vermelho – uma referência à luta internacional contra a Aids. Novembro, azul, contra o câncer de próstata. Outubro, rosa, cor que chama atenção sobre o câncer de mama. E setembro ganhou seu próprio laço colorido: o amarelo, que pretende levantar a bandeira da prevenção do suicídio.

Tabu na imprensa e nas conversas entre amigos, o suicídio é um problema sério de saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde, todos os anos, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida no mundo. Esta é a segunda causa de morte entre pessoas na faixa dos 15 aos 29 anos de idade, e a décima quinta causa de morte no mundo, respondendo por 1,4% dos óbitos registrados (dados de 2012). Apesar de relevante, o tema segue à margem das grandes discussões sobre a saúde das populações.

“Para as pessoas em risco de suicídio, é muito importante encorajá-las a procurar ajuda em serviços de saúde mental”

Uma tentativa de reverter este quadro é o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio (10/9), criado em 2003 pela Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP, na sigla em inglês) e que vem ganhando desde então a adesão de cada vez mais países e instituições, com várias atividades de conscientização pública do tema sendo realizadas ao redor do mundo. Em 2015, a IASP destaca a importância de uma abordagem proativa de serviços de saúde, comunidades e indivíduos em relação a pessoas que estão em risco de cometer suicídio. “Para as pessoas em risco de suicídio, é muito importante encorajá-las a procurar ajuda em serviços de saúde mental”, afirma no vídeo da campanha a presidente da instituição, Ella Arensman. No entanto, o assunto ainda é visto com muito preconceito em vários países.

No Brasil, embora tímidas, há iniciativas que procuram aumentar a conscientização sobre o tema. Em 2014, o Conselho Federal de Medicina (CFM), com apoio da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), lançou a cartilha Suicídio: informando para prevenir, em que se destaca a importância da formação dos médicos que trabalham na atenção básica para lidar com o suicídio. “A grande maioria das pessoas que cometem ou tentam suicídio, quase 95%, têm um problema psiquiátrico, mas muitas delas nunca se consultaram com um especialista”, afirma o psiquiatra Rafael Freire, do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Senado amarelo
Em Brasília, a iluminação amarela chama atenção para a importância de se conscientizar a população sobre o tema. (foto: Divulgação/ CVV)

Segundo a publicação do CFM, cerca de 10 mil pessoas por ano cometem suicídio no Brasil, o que coloca o país em oitavo lugar no ranking mundial do número absoluto de ocorrências. Mas o número pode ser maior: por motivos que variam do preconceito ao desconhecimento, os casos de suicídio muitas vezes não são notificados como tal.

 

Situações de risco

A motivação para o suicídio entre jovens segue um conjunto complexo de fatores, que incluem o abuso de substâncias, a rejeição familiar e o abuso físico e sexual na infância, entre outros. Além dos jovens, os idosos também são um grupo especialmente vulnerável ao suicídio, que pode estar associado a fatores sociais, como a solidão após a perda de um cônjuge, ou à existência de doenças degenerativas e dolorosas, por exemplo.

Os dois principais fatores de risco para o suicídio são a tentativa prévia e a presença de doença mental

Em qualquer faixa etária, os dois principais fatores de risco para o suicídio são a tentativa prévia – pessoas que já tentaram se matar uma vez têm cinco a seis vezes mais chance de tentar novamente – e a presença de doença mental, sobretudo depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e dependência de drogas, transtornos de personalidade e esquizofrenia.

 

O que podemos fazer?

É impossível prever com certeza se ou quando uma pessoa tirará a própria vida. Porém, isso não significa que não haja nada a fazer. “O tratamento adequado não impede o suicídio, mas diminui o risco”, esclarece Freire. Por isso, ao observar que uma pessoa apresenta tristeza constante, perda de interesse pelas atividades habituais e sentimentos de culpa intensos – que podem ser sinal de depressão – ou ao perceber que ela está falando em suicídio ou tomando atitudes perigosas, como ingerir quantidades exageradas de remédios, é importante encaminhá-la a um serviço de saúde mental.

Há mais de 50 anos atuando na prevenção do suicídio no Brasil, a ONG Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece gratuitamente atendimento telefônico e online para pessoas que desejem conversar sobre o assunto. Mantido com a ajuda de 2 mil voluntários em todo o país, o serviço realiza cerca de 1 milhão de atendimentos por ano.

Também engajado na conscientização da sociedade sobre o problema, o CVV publicou há dois anos o folder Falando abertamente sobre suicídio, onde defende que a primeira medida preventiva é a educação e que precisamos deixar de lado o medo de falar sobre o assunto. Voltada ao público jovem, a publicação enfatiza como a comunidade pode oferecer apoio a pessoas em risco de suicídio e está disponível gratuitamente para reimpressão em escolas, igrejas e outras instituições.

Prevenção do suicídio
Taxistas de Curitiba, no Paraná, participam da campanha distribuindo material informativo. (foto: Divulgação/ CVV)

O CVV está envolvido ainda na campanha do Setembro Amarelo, junto com o CFM e a ABP, e criou uma página no Facebook onde divulga eventos e ações que prometem badalar o tema ao longo do mês. Desde o dia 8, o Congresso Nacional, em Brasília, vem sendo iluminado por uma luz amarela, em referência ao Dia Internacional da Prevenção ao Suicídio. O Mercado Municipal de São Brás, em Belém (PA), a ponte Anita Garibaldi, em Laguna (SC), o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, e outros monumentos também aderiram à campanha. Em Curitiba (PR), uma parceria com a rede de táxis da cidade promove a distribuição de material informativo. Caminhadas e palestras também estão previstas em vários estados.

Catarina Chagas
Instituto Ciência Hoje/ RJ