É reconhecimento. É para mulheres. E não tem nada a ver com cabelos…

Elas são mulheres de sucesso, mas nunca integraram novelas, não participaram dos últimos programas de culinária nem viralizaram nas redes sociais: são cientistas. Pela qualidade de suas pesquisas, receberam o prêmio Para Mulheres na Ciência, uma iniciativa da L’Oréal e da Unesco que, no Brasil, recebe o apoio da Academia Brasileira de Ciências.

São sete as mais recentes divas do conhecimento no país e nenhuma se enquadra no estereótipo de nerd. Com idades que variam entre 29 e 40 anos, elas são comunicativas, antenadas política e economicamente e valorizam o conhecimento como meio para maiores conquistas sociais. Evidentemente, defendem o aumento da participação feminina na pesquisa científica e vão à luta para que, se decidirem ter filhos, isso não signifique um empecilho na progressão de suas carreiras.

Adriana Neumann, matemática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, conquistou o prêmio por seu estudo sobre o comportamento de moléculas de um sistema físico, analisando as probabilidades com que se movem de um reservatório a outro. Ela espera que sua pesquisa contribua para a compreensão do comportamento de gases e fluidos e que sua conduta provoque novas reflexões sobre situações frequentemente enfrentadas pelas mulheres cientistas.

A filha de Adriana nasceu há um ano e meio e a pesquisadora precisou dar continuidade à sua produção acadêmica durante a licença maternidade para não correr o risco de interromper a sua progressão na carreira. “Tudo é mais difícil. Mas a gente não tem que querer ser igual. Homens e mulheres são diferentes e a ciência precisa dessa diferença. O trabalho em conjunto é o que vai fazer a ciência progredir”, opina.


O presidente da Academia Brasileira de Ciências,
Luiz Davidovich, entrega certificado de premiação
à geriatra Claudia Suemoto, pesquisadora da
Universidade de São Paulo. (foto: Divulgação)

Para a bióloga Fernanda de Pinho Werneck, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, a premiação é um estímulo à continuidade do trabalho que as mulheres cientistas vêm desempenhando. “[O prêmio] É também um incentivo para que a gente entusiasme as novas gerações", destaca. Sua pesquisa aborda o efeito das mudanças climáticas na vida animal e busca identificar a capacidade adaptativa e os riscos de extinção de espécies de répteis.

Entre as vencedoras, parece estar muito clara a necessidade de uma maior mobilização das mulheres para que a questão do gênero na ciência encontre um equilíbrio mais satisfatório. Claudia Suemoto, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – laureada por sua pesquisa sobre os fatores de risco para o desenvolvimento de demência – cita casos de colegas que, embora ocupassem cargos de destaque na academia, continuavam ganhando significativamente menos que os pesquisadores homens. Ela destaca o papel importante que as cientistas mais experientes precisam assumir de orientar as mais novas, não só na bancada do laboratório, mas na luta por seus direitos. “Na ciência, as mulheres precisam cuidar umas das outras, principalmente, as que estão em posição de destaque”, acredita.

 

Por que um prêmio para mulheres?

Conhecemos as sete premiadas num brunch oferecido pela L’Óreal em um hotel no Rio. Felizes, falantes e animadas, elas nos brindaram com histórias reais de como é desafiador ser mulher em áreas onde a participação feminina ainda é tímida. Esta é uma causa pela qual todas parecem dispostas a brigar, e que defendem de forma voluntária, enquanto desenvolvem seus trabalhos de pesquisa – uma dupla jornada que muito possivelmente não trará tanto reconhecimento.

Mas a sede existe. Em 11 anos de premiação no Brasil, Para Mulheres na Ciência já recebeu mais de 3,4 projetos inscritos. Desses, foram laureados 75, que receberam, no total, cerca de R$ 3,5 milhões em bolsas-auxílio, cujo objetivo é permitir que as cientistas escolhidas deem continuidade às suas pesquisas – um apoio que, neste momento de crise no financiamento da ciência no Brasil, ganha ainda mais importância.

Presente na cerimônia de premiação, que aconteceu na noite da última quinta-feira (20/10) no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, fez piada sobre o privilégio de abrir uma brecha na agenda apertada para participar de um evento com tantas mulheres “inteligentes e bonitas” – detalhe que não passou despercebido nas redes sociais – e sublinhou a importância de inspirar jovens mulheres a ingressar nessa área.


A atriz Taís Araújo, porta-voz da L’Oréal Paris, falou sobre a importância de promover a participação das mulheres na ciência e em outras áreas. Na hora de anunciar as vencedoras, engasgou com o nome dos projetos – um bom lembrete de que a divulgação científica deve também ser área prioritária de ação. (foto: Divulgação)

Mais empático à audiência feminina, o presidente da Academia Brasileira de Ciências e do júri do prêmio, Luiz Davidovich, abriu sua fala saudando “a todas e a todos” e destacou que “ciência, inovação tecnológica e inovação de qualidade para todos são os pilares fundamentais para o desenvolvimento de um país”.

Chamou atenção o fato de as principais autoridades que participaram da entrega – além de Kassab e Davidovich, estavam presentes o presidente da L’Óreal Brasil, Didier Tisserand, e o coordenador de ciências naturais da Unesco no Brasil, Ary Mergulhão, entre outros – serem, quase todas, homens: mais uma prova de que prêmios como este têm e ainda terão razão de ser por muito tempo até que se possam dizer desnecessários.

Nas próximas semanas, você confere aqui na CH Online uma série de artigos das pesquisadoras premiadas sobre suas áreas de atuação.

 

Bianca Encarnação
Catarina Chagas

Especial para CH Online