Exploradora de cometas

Depois de uma longa viagem de 10 anos, com direito a uma voltinha ao redor de Marte e 957 dias ‘hibernando’ no espaço, a sonda espacial Rosetta, desenvolvida pela Agência Espacial Europeia (ESA), está bem próxima de realizar uma importante etapa em sua missão de estudar o cometa Churyumov-Gerasimenko. Nesta quarta-feira, 12 de novembro, a sonda vai estar próxima o suficiente do astro para liberar o robô Philae, que vai aterrissar na superfície do cometa para analisar sua composição.

A proposta dessa pioneira missão de mineração espacial é descobrir mais sobre a composição desses astros e, talvez, sobre o passado do Sistema Solar

A proposta dessa pioneira missão de mineração espacial é descobrir mais sobre a composição desses astros e, talvez, sobre o passado do Sistema Solar – os cometas podem guardar pistas até mesmo das condições que permitiram o início da vida na Terra. Ao aterrissar no Churyumov-Gerasimenko, o Philae, provido com diversos instrumentos científicos, vai coletar amostras do solo, gases e poeira e mandar suas análises para a Terra.

“Queremos verificar se a água presente nos cometas é do mesmo tipo da que existe em nosso planeta, por exemplo”, explica o diretor da missão, o astrofísico Fred Jansen, da ESA. “A partir disso, podemos averiguar se é de fato possível que esses astros tenham trazido a água para o nosso mundo e contribuído para a criação de condições possíveis para o início da vida”, cogita.

 

Odisseia no espaço

Nessa trajetória de 10 anos, a Rosetta realizou um sobrevoo no planeta Marte para ganhar velocidade e acertar seu trajeto para se aproximar com sucesso do Churyumov-Gerasimenko – há poucos meses, ela se tornou a primeira sonda a entrar em órbita de um corpo como esse. A Rosetta também passou parte desse tempo em estado de hibernação. “A sonda conta com painéis solares para transformar a luz solar em energia, mas, por estar distante da estrela, teve que desligar alguns de seus sistemas por cerca de 30 meses”, conta Jansen.

Cometa Churyumov-Gerasimenko
A Rosetta foi a primeira sonda a entrar em órbita de um cometa, o Churyumov-Gerasimenko (representado na imagem), em meados de 2014. Desde então, vem fazendo registros do corpo celeste e preparando-se para dar o próximo passo em seu estudo. (imagem: ESA/Rosetta/NAVCAM – CC BY-SA IGO 3.0)

O Churyumov-Gerasimenko está atualmente aproximando-se de seu periélio, ou seja, do ponto em que ficará mais próximo do Sol em sua trajetória pelo Sistema Solar. Se tudo der certo, o robozinho Philae continuará na superfície do cometa por mais seis semanas, quando deve parar de funcionar devido às altas temperaturas decorrentes da proximidade com o Sol.

A expectativa para a aterrissagem do robô é grande, mas os cientistas ainda não estão muito certos de que a manobra vai funcionar, em especial pelo terreno inesperadamente acidentado que encontraram no astro.

Já a sonda Rosetta vai continuar seu trabalho na órbita do cometa até que ele atinja o ponto de menor distância em relação ao Sol, o que deve ocorrer em agosto de 2015. “A expectativa é de que ela continue a mandar suas análises para a Terra até dezembro do próximo ano”, ressalta Jansen. A viagem é sem retorno: depois disso, a Rosetta continuará a orbitar o Churyumov-Gerasimenkoestá para sempre, acompanhando-o em seu passeio sem fim pelo Sistema Solar.

Isabelle Carvalho
Ciência Hoje On-line