Flagrantes da vida em 2038

Imagine um mundo em que há casas equipadas com inteligência artificial e programadas para atender às nossas necessidades, além da possibilidade de rejuvenescer e de ter clones virtuais para estar em vários lugares ao mesmo tempo. Esse pode até parecer um enredo de filme de ficção científica, mas é a realidade que o livro Flagrantes da vida no futuro prevê para daqui a 30 anos.

Escrito por João Antônio Zuffo, professor do curso de Engenharia Elétrica da Universidade de São Paulo (USP), o livro se estrutura em pequenas crônicas sobre diversos aspectos da vida, como política, economia e religião. Ao relatar a rotina de personagens, como a família de José, o autor desvenda detalhes do cotidiano em 2038: como são as moradias, as festas, o trabalho, os brinquedos, as igrejas e as relações pessoais.

No Brasil de 2038, o analfabetismo foi totalmente erradicado; a inclusão digital de toda a população havia se tornado uma realidade já em 2010. As cidades entraram em decadência e as pessoas começaram a buscar locais mais afastados para morar. A rápida ascensão das classes D e E é ilustrada pela história de uma família dessa camada da população.

Relações virtuais
A vida no ambiente virtual é intensa na sociedade de 2038. As pessoas existem no mundo virtual na forma de avatares, que podem comparecer a reuniões, festas e conhecer outras pessoas no mundo virtual – como já acontece atualmente em menor escala. A cidadania em países virtuais é reconhecida e algumas nações aceitam dupla cidadania – a pessoa pode ser nativa de um país real e um virtual.

A comunicação direta entre cérebro e máquina permite que uma pessoa dê ordens à sua própria casa, que possui uma inteligência artificial capaz de reconhecer gostos e práticas dos moradores. Uma das crônicas narra a briga de José com sua casa, muito mais leal a sua esposa do que a ele.

O personagem, um dos principais do livro, vivia um período de convalescença de uma terapia genética de rejuvenescimento e não conseguia convencer sua casa a levantar as cortinas, pois sua esposa tinha viajado e deixado a orientação de que elas ficassem abaixadas. Por meio de um chip implantado em seu cérebro, José só podia reclamar com a casa, que argumentava que não mudaria de opinião até que a esposa dele voltasse.

Leitura envolvente
As crônicas podem ser lidas na ordem apresentada, em blocos temáticos – como política, classes econômicas, religião e educação – ou mesmo aleatoriamente. A leitura é agradável para todos os públicos e o leitor é facilmente envolvido pela trajetória dos personagens e pela curiosidade de desvendar cada aspecto cotidiano da sociedade de 2038.

Algumas cenas parecem muito complexas para fazerem parte de uma realidade separada da nossa por apenas 30 anos. Entretanto, o autor acredita que todas as previsões, mais cedo ou mais tarde, acontecerão. Quem gosta de pensar sobre o futuro ou sobre as influências do mundo digital sobre o cotidiano encontrará em Flagrantes da vida no futuro uma leitura instigante e prazerosa.

Flagrantes da vida no futuro
João Antônio Zuffo
Rio de Janeiro, 2008, Editora Saraiva
232 páginas – R$ 29,90
Tel.: 0800-7729529

Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
22/10/2008