No rastro de ‘A origem das espécies’

Interessados na teoria da evolução das espécies e curiosos em geral podem agora recorrer a uma nova obra para conhecer e decifrar as aventuras vividas por Charles Darwin e sua equipe na viagem que revolucionou a ciência. Em Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle , Richard Keynes, bisneto do protagonista, relata o acontecimento desde os preparativos até as conclusões publicadas nos primeiros artigos sobre os espécimes animais e vegetais coletados.

A expedição científica percorreu o mundo entre 1832 e 1836 e forneceu as bases para a descoberta do princípio da origem das espécies e da seleção natural – que também foi identificado de forma independente pelo inglês Alfred Wallace. Sua importância é destacada logo na capa do livro, que cita um trecho bastante convincente da autobiografia de Darwin: “A viagem do Beagle foi de longe o acontecimento mais importante em minha vida e determinou toda a minha carreira”.

No decorrer das páginas, o autor descreve de forma detalhada as etapas percorridas, os pensamentos e sentimentos dos tripulantes, representados por outras partes da autobiografia do cientista e por fragmentos de cartas, diários e relatórios. Para ambientar o leitor, a obra apresenta Darwin ainda jovem e avalia sua relação com a família e sua formação acadêmica para reconstituir, a partir de conclusões sugeridas pelo autor, a personalidade do cientista.

A viagem propriamente dita começa no quarto capítulo, que relata a primeira etapa da expedição – de Plymouth, Inglaterra, ao arquipélago de Cabo Verde -, dos constantes enjôos de Darwin ao fascínio da descoberta de plânctons, descritos na primeira das Notas de zoologia . Ainda em 1832, a tripulação seguiu do Equador à Bahia, com parada estratégica em Fernando de Noronha.

A enseada de Botafogo retratada pelo pintor britânico Conrad Martens no século 19 é uma das dezenas de ilustrações de Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle

A estadia no Rio de Janeiro ganhou capítulo exclusivo, talvez pela simpatia do autor à cidade, visitada em 1951 a convite de Carlos Chagas, ou pelo entusiasmo de Darwin com a diversidade das numerosas espécies encontradas. Em seu diário, o cientista relata o “agradável aborrecimento de não se poder andar cem metros sem ter de ficar amarrado ao mesmo lugar por uma nova e maravilhosa criatura”.

 

O ano seguinte deu continuidade à investigação da América do Sul, e Keynes contextualiza o período histórico ao explicar a disputa pela posse das ilhas Malvinas e expor o ponto de vista dos tripulantes. Um capítulo destaca o encontro com o general Rosas, então comandante das forças argentinas, no caminho entre a Patagônia, Buenos Aires e Santa Fé; e outro a convivência com um grupo de índios fueguinos, que rendeu uma série de retratos e anotações sobre hábitos da tribo.

 

O relato da viagem de volta, com passagens pelo Taiti, Nova Zelândia e Austrália, também reconstitui o ambiente histórico, ao descrever os habitantes e o cotidiano locais, e expõe o deslumbramento de Darwin diante das belas paisagens e sua naturalidade em relação às péssimas condições de vida dos escravos.

 

Ao final do livro, Keynes descreve como o bisavô, de volta à Inglaterra, organizou as evidências coletadas e estudou as observações científicas sobre geologia e história natural feitas a bordo do Beagle, que levaram à publicação de A origem das espécies, em 1859. A obra traz, ainda, mapas que orientam o leitor e cerca de 120 ilustrações (20 a cores) de diversas espécies animais e vegetais, fósseis, paisagens e situações.

Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle
Richard Keynes  (trad.: Sergio Goes de Paula)
Rio de Janeiro, 2004,
Jorge Zahar Editor
Fone: (21) 2240-0226
390 páginas – R$ 49,50

Isabel Levy
Ciência Hoje On-line
14/10/04