Um sonho mais próximo?

Desde os tempos de colônia, o Brasil mostrava um enorme potencial econômico, mas diversas condições históricas fizeram com que o país ficasse por muito tempo com um papel de figurante no cenário mundial. A transição da República do Café para o governo de Getúlio Vargas, em 1930, foi um marco, pois a indústria interna se fortaleceu e o país começou a caminhar com suas próprias pernas. É a partir desse período que o documentário Um sonho intenso, de José Mariani, resgata a trajetória econômica brasileira até os dias atuais, quando o país parece desempenhar papel importante na economia global como membro de um dos blocos econômicos emergentes, o BRICS.

O filme, exibido em universidades brasileiras desde julho, narra a história econômica do país pela visão de vários especialistas gabaritados no tema, dentre economistas, historiadores e sociólogos. Os economistas Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e Maria da Conceição Tavares, professora-emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e o diplomata Celso Amorim, atual ministro da Defesa, são alguns dos nomes que, por meio de interpretações distintas, mas entrelaçadas, recapitulam os passos de nossa economia.

Assista ao trailer do documentário

“O ponto de partida para a realização do documentário foi contar a história comentada do processo econômico brasileiro”, afirmou o cineasta José Mariani em debate realizado na semana passada após exibição do filme na Casa da Ciência da UFRJ. “Isso nos deu liberdade de colher opiniões divergentes, dentro do campo de esquerda e de centro-direita”, ressalta.

“O papel do filme é colocar questões não de modo fechado e concreto, mas provocar importantes discussões que podem permitir uma reflexão sobre nossa economia”, completa o diretor, que considera importante a produção cinematográfica sobre esse tema. Apesar de reunir opiniões divergentes, o documentário por vezes nos conduz em uma narrativa alinhada ao discurso de esquerda.

Soberania nacional

Para Carlos Lessa, o documentário se destaca por enfatizar o importante papel que a soberania nacional tem na economia. “A ideia da globalização é muito bonita, o espaço-mundo se movendo e os países interagindo uns com os outros; mas você tem que ser nação para poder proteger a sua gente e sua economia”, afirmou no debate.

Em meio à atual disputa presidencial, o economista também chama a atenção para a necessidade de um debate sobre política econômica mundial. “Aflige-me ver o país ter zero de reflexão sobre as mudanças mundiais”, disse. “Como discutir o futuro de um país como o Brasil sem ter o mínimo de discussão sobre o processo geopolítico mundial?”

Outro aspecto levantado pelo filme é o paradoxo que acontece no Brasil: apesar do crescimento econômico assistido nos últimos anos, o país ainda tem características de subdesenvolvimento

Outro aspecto levantado pelo filme é o paradoxo que acontece no Brasil: apesar do crescimento econômico assistido nos últimos anos, o país ainda tem características de subdesenvolvimento. De acordo com a economista Lena Lavinas, da UFRJ, compreender e discutir essa questão é tarefa essencial para melhorar o cenário futuro. “Por que não conseguimos sair do subdesenvolvimento é uma questão absolutamente fundamental para que a gente entenda o que é o Brasil”, afirmou a especialista durante o debate.

Apesar disso, a economista Maria da Conceição Tavares se mostra otimista com o momento brasileiro no documentário. “Darcy Ribeiro escreveu que o Brasil iria ser uma democracia original dos trópicos e eu realmente acreditei”, comentou no filme. “Até hoje, estamos esperando o ‘original’, mas está vindo, viu?”

Tavares enfatiza a criação de 10 milhões de empregos no governo Lula e o fato de o país ter sido o único em todo o mundo a não ter aumentada sua taxa de desemprego durante a crise mundial de 2009. Depois do êxito apontado pela economista, o próximo desafio do Brasil é enfrentar os efeitos da tão temida recessão atual.

Um sonho intenso ainda não tem data certa para estrear nos cinemas brasileiros, mas deve chegar às telonas ainda neste ano.

Lucas Lucariny
Ciência Hoje On-line