Literatura

 

A Academia Sueca anunciou em 2 de outubro de 2003 o Nobel de literatura para o sul-africano John Maxwell Coetzee. Ele é o sexto de seu país a receber o prêmio (o segundo em literatura) e disputou a vaga com autores importantes como o peruano Mario Vargas Llosa, o português António Lobo Antunes, a dinamarquesa Inger Christensen e o americano Philip Roth. O escritor ganhará 1,3 milhão de dólares.

Recluso, Coetzee não pretende dar entrevistas para
comentar a premiação (foto: Companhia das Letras)

Coetzee já fora laureado com o Booker Prize (o mais prestigiado prêmio literário da comunidade anglo-saxônica) por duas vezes, feito inédito até então. A primeira, em 1983, com Vida e época de Michael K. , e, em 1999, com Desonra , ambos publicados no Brasil pela Companhia das Letras.

O sul-africano nasceu em 1940, na Cidade do Cabo. Tornou-se professor de inglês e literatura nos Estados Unidos e hoje leciona na Universidade de Adelaide, na Austrália. Além de obras de ficção, Coetzee tem ainda publicados ensaios críticos e traduções.

O autor tem doze romances publicados. O primeiro deles, Terra de sombras ( Duskland ), foi lançado em 1974 e alcançou boa repercussão entre os críticos. Mas o estilo que permearia o resto de sua obra confirmou-se com Waiting for the barbarians , de 1980. Nesse livro Coetzee cria o personagem de um juiz sul-africano que contesta a estrutura da própria justiça a que serve. A partir de então, seus personagens e enredos sempre trazem à tona os problemas de uma sociedade marcada pelo apartheid , onde imperam a exclusão racial dos negros e uma violência social incontrolável e aparentemente infinita.

Os textos do autor são denunciativos e, nas entrelinhas, apontam os problemas de uma sociedade corrompida pela violência. Coetzee coloca seus personagens em situações-limite e, a partir da análise das relações sociais estabelecidas entre eles, podem-se compreender os mecanismos perversos que regem a sociedade sul-africana.

Desonra, A vida dos animais e A vida e época de Michael K, três obras
de J.M. Coetzee lançadas no Brasil pela Companhia das Letras

José Rubens Siqueira, tradutor de Coetzee no Brasil, enfatiza o caráter universal dos livros do escritor. Seus textos se identificam, por exemplo, com a realidade brasileira, marcada por grande diversidade racial. “Ele consegue mergulhar no universo humano sem se distanciar da realidade social de sua época e de seu país. O estilo é seco e, ao mesmo tempo, há uma grande compaixão pelos personagens.”

A academia cita ainda a “grande variedade de temas” do autor que “nunca repete a mesma fórmula” como um diferencial de sua obra. A clareza e a concisão de seu estilo proporcionam boas análises psicológicas e sociais e marcam textos livres de melodramas e dramatizações simplistas.

Coetzee é famoso por ser recluso e, informado da premiação, comentou que não pretende dar entrevistas. Outros livros do autor publicados no Brasil são: Cenas de uma vida , No coração do país , Cio da terra , e Dostoeivski: o mestre de São Petersburgo . O último livro de Coetzee, Elizabeth Costello: Eight lessons , foi lançado em 2003 e já está sendo traduzido por José Rubens Siqueira.

Julio Lobato
Ciência Hoje On-line
03/10/03