A saga dos refugiados na América Latina

Jornalista ICH

Como os países da América do Sul estão enfrentando a crise de refugiados e imigrantes? É sobre essa questão que o geógrafo Helion Póvoa Neto vem se debruçando nos últimos tempos. A chegada de mais de cem mil venezuelanos ao Brasil, naturalmente, é um de seus focos. E, recentemente, ele se deparou com uma notícia que o surpreendeu: pela primeira vez na história, o Brasil aceitou, de uma só vez, o pedido de refúgio de 21 mil venezuelanos. “Esse reconhecimento de refugiados tem, por um lado, uma dimensão humanitária, mas é também uma declaração política do governo Bolsonaro para reforçar sua oposição ao governo do país vizinho”, analisa Póvoa, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Migratórios (NIEM) do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para ele, toda a diversidade cultural de um povo está ligada à sua história de migração. “Da mesma forma que os deslocamentos forçados dos africanos escravizados e da imigração europeia influenciaram nossa cultura, em 20 anos, veremos as marcas das presenças dos venezuelanos, sírios e haitianos”, prevê ele, que, nesta entrevista, avalia também os rumos da imigração mundo afora.

CIÊNCIA HOJE: Quais as semelhanças e as diferenças entre a crise de refugiados no Brasil e no mundo?

HELION PÓVOA NETO: Desde a Segunda Guerra, quando foi criado pelas Nações Unidas o conceito de refugiado, este é o momento com mais refugiados. São mais de 60 milhões de deslocados à força no mundo, por guerras, conflitos etc. Essa crise tem a ver com conflito da Síria, do Afeganistão, da África… É um momento excepcional em termos de crescimento do número de refugiados. O Brasil recebe uma parte disso, mas proporcionalmente muito pequena. Falar em crise de refugiados no Brasil é um certo exagero. É verdade que o Brasil nunca recebeu tantos refugiados em sua história como atualmente, mas, quantitativamente, é muito menos do que países que estão próximos às áreas de conflito, como Líbano e Turquia. O Brasil não recebe tanto nem comparado a outros países da América do Sul, como Colômbia e Equador, tanto em termos de quantidade total quanto em termos relativos, se levarmos em conta o tamanho da população. A quantidade de estrangeiros no Brasil, somando imigrantes econômicos e refugiados, não chega nem a 1% da nossa população, ou seja, não há nem dois milhões de estrangeiros. A migração interna, de brasileiros se deslocando dentro do país, é muito maior. Uma terceira coisa é a emigração de brasileiros que estão no exterior. Esse número é até maior do que o número de estrangeiros no Brasil. Os dados são imprecisos, mas se fala em algo entre 2 e 3 milhões.

Valquíria Daher

Jornalista
Instituto Ciência Hoje

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