Dormir para pensar melhor

Conclusões do diálogo entre uma professora do Ensino Médio e uma pesquisadora especialista em distúrbios do sono.

 

No ano que antecede a entrada na Universidade, a tendência dos estudantes é dormir menos para dedicar mais horas aos estudos. Mas será que esta é a decisão adequada? Quais as consequências desta escolha?Para responder é preciso levar em conta que o sono é responsável por diversas funções biológicas,entre elas a de reparar e revigorar o organismo do seu estado de vigília. Deve-se considerar também que a quantidade de sono considerada ideal varia conforme a idade e características  individuais. Mas afinal, quanto precisamos dormir?

Para recém-nascidos, por exemplo, a necessidade de sono é de 14 a 17 horas por dia. Crianças em idade escolar – no ensino fundamental I e II – necessitam de 9 a 11 horas de sono por dia. Entrando na fase adulta, um jovem de 18 a 25 anos passa a precisar de menos horas de sono, entre 7 a 9 horas, período que se faz suficiente até, aproximadamente, os 65 anos. Já os idosos, com mais de 65 anos, necessitam de 7 a 8 horas de sono por dia.

A diminuição da quantidade de sono ao longo da vida ocorre devido a adaptações do nosso cérebro, que passa a funcionar de maneiras diferentes a medida que envelhecemos.Os cientistas ainda não compreendem com clareza qual o propósito do sono. Sabe-se que ele é restaurativo, que uma noite bem dormida faz com que os indivíduos acordem bem dispostos no dia seguinte. O contrário

também é verdadeiro:quando dormimos mal, acordamos com sensação de cansaço, sonolência e nossa produtividade diminui. O sono também promove uma “limpeza” no metabolismo cerebral. Ou seja: remove resíduos neurotóxicos e de algumas substâncias, como adenosina, que se acumula durante o dia.

 

Os processos do sono

No período noturno, o corpo libera um hormônio chamado melatonina, que induz o indivíduo a um estado de sonolência. Quando começamos a dormir,os ritmos cardíaco e respiratório diminuem, os músculos começam a relaxar e ocorre queda na temperatura corporal. Picos de secreção de hormônio GH ocorrem durante o sono, contribuindo para o crescimento em crianças, trofismo (aumento de massa) muscular em adultos e regeneração celular em ambos. Outro hormônio liberado durante o sono é a leptina, relacionada ao metabolismo e à saciedade. Perto do despertar, entra em ação o cortisol, popularmente chamado hormônio do estresse, que eleva a temperatura corporal.

O sono ocorre em duas fases distintas: REM (sigla em inglês para Rapid Eye Movement ou movimento rápido dos olhos) e NREM (No Rapid Eye Movement ou ausência de movimento rápido dos olhos). De acordo com as ondas cerebrais, o movimento dos olhos e o tônus muscular, determina-se os diferentes estágios do sono. O NREM divide-se em três estágios, que vão desde o sono mais leve (N1) até o mais profundo (N3), passando pelo estágio intermediário (N2). Já o sono REM, está associado ao estágio de sonhos vívidos. Acredita-se que durante o sono REM também ocorra a consolidação da memória, fazendo com que informações importantes sejam retidas e conexões neurais menos importantes sejam removidas.

Sono e aprendizado

Durante o sono, o cérebro trabalha selecionando informações aprendidas durante o dia. Esse processo ocorre em três etapas: aquisição (registro de novas informações), consolidação (estabilização das informações) e memória (capacidade de acessar informações posteriormente). É possível, portanto, afirmar que o sono desempenha um papel na plasticidade cerebral, promovendo a formação e a manutenção de sinapses dependentes de aprendizagem. Em outras palavras, aprende-se menos quando não se dorme o suficiente, porque o sono tem um impacto na função cognitiva e na memória. Essas informações remetem às questões do início do texto:é mais vantagem dormir ou estudar uma hora a mais?

A conclusão não é das mais difíceis. O indivíduo deve dormir a quantidade de horas que lhe permita acordar revigorado, isto é, apto a desempenhar suas atividades e manter-se alerta sem esforço, mesmo em situações monótonas. E, como vimos anteriormente, a necessidade de sono varia conforme a idade. Privar-se do sono para estudar um pouco mais pode resultar em mudanças no desempenho cognitivo, no estado de alerta e na função neuro comportamental, relacionada ao controle emocional e à aprendizagem. Na prática, os estudantes podem apresentar prejuízo ao realizar uma tarefa que exija atenção e que dependam de funções cognitivas, como raciocínio-lógico, tarefas complexas de matemática, interpretação de textos e tarefas com múltiplos focos.

Corine Vanessa Los Costa

Aluna do Mestrado Profissional em Ensino de Biologia em Rede Nacional (ProfBio)
*Artigo resultante de entrevista com a pesquisadora Suely Roizenblatt, da Universidade Federal de São Paulo

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