‘Perdidos no espaço’ no túnel do tempo

Nova versão da série produzida nos anos 1960 incorpora avanços da tecnologia e descobertas da astronomia.

Mesmo quem nunca se mudou de casa sabe a trabalheira que dá. Ir morar em outra cidade ou país, com toda a família, então, nem se fala. Mas já pensou nas dificuldades se, no meio da viagem, o caminhão de mudança quebrasse? Pior: e se você tivesse que consertá-lo para poder chegar ao seu destino, sem ninguém por perto para ajudar, tampouco uma forma de se comunicar para pedir socorro?

Agora imagine o mesmo cenário, com uma enorme diferença: você e sua família estão viajando para outro planeta, em uma espaçonave supermoderna, cheia de maravilhas tecnológicas para oferecer conforto a todos. Só que, no meio da jornada, a nave apresenta um defeito, e vocês vão parar em um planeta desconhecido, onde é preciso lidar com seres estranhos e se adaptar às condições nem sempre favoráveis do novo ambiente. É esse o desafio dos personagens de Perdidos no espaço.

Esta série, disponível na plataforma Netflix, é um remake do clássico da televisão produzido entre 1965 e 1968. O visual é novo, os efeitos especiais caprichados, mas a mudança mais importante da trama em relação ao original deve agradar ao pessoal mais jovem. É grande a participação dos adolescentes da família, de etnias diversas, na resolução dos problemas para garantir a sobrevivência do grupo e manter a esperança de alcançar o novo planeta paradisíaco. Os pais, que na série clássica dominavam as ações e decisões, têm agora que contar com a participação ativa das filhas adolescentes e do filho pré-adolescente para conseguirem superar os muitos obstáculos. Em grande parte das situações, são eles, os jovens, que encontram as soluções e mantêm tudo sob controle.

Tudo isso em meio à incerteza de um planeta desconhecido e hostil e com a presença de um robô, que não se sabe se é do bem ou do mal, e de alguns personagens de fora da família que acabam se incorporando ao grupo, ampliando a variedade de linhas de pensamento e ação.

Se você já viu a série antiga (há episódios disponíveis no YouTube), provavelmente vai notar que muita coisa mudou também na tecnologia e no conhecimento exibidos. Na série original, a Júpiter 2, nave que conduz a família Robinson, tinha o popular formato de um disco voador, pois ainda não se imaginava como poderia ser uma espaçonave – quando o homem pisou na Lua, em 1969, a série já tinha deixado de ser produzida. Na versão atual, a nave se parece mais com a icônica Millenium Falcon, da saga Guerra nas estrelas, apresentando um sistema de retropropulsão, que serve para impulsionar a nave em viagens interplanetárias.

O motivo para a família Robinson abandonar a Terra também mudou: na série original, a razão era a superpopulação do nosso planeta no ano de 1997 (30 anos à frente no tempo). Na nova série, são as mudanças ambientais causadas pela queda de um meteorito na Terra (também no futuro, daqui a três décadas). Note que, na época da série original, nos anos 1960, ainda não se conhecia a possibilidade da queda de grandes meteoritos na Terra, e ninguém sabia ao certo como se formavam as crateras que vemos na Terra e na Lua.

O astrônomo norte-americano Eugene Shoemaker (1928-1997) estava cutucando a comunidade científica a esse respeito naquele tempo. Hoje sabemos que diversas enormes crateras existentes na Terra foram originadas pelo impacto de grandes meteoritos, que podem ter levado parte da vida existente na época à extinção.

Na nova série, as peças necessárias para os reparos da espaçonave e mesmo para auxílio médico são produzidas em uma impressora 3D, por uma das adolescentes, algo inimaginável nos anos 1960. Uma coisa notável para a primeira versão era a busca dos Robinson por um planeta habitável, em um tempo em que não se sabia se existiam planetas fora do Sistema Solar, e nem este era bem conhecido. Hoje se conhecem milhares de exoplanetas, e especula-se se alguns deles seriam habitáveis por humanos.

Se você já assistiu a algum episódio do novo Perdidos no espaço, ou se já viu a série antiga, queremos saber o que você achou. Escreva para a gente e dê a sua opinião.

Eder Cassola Molina
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, Universidade de São Paulo

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