O veneno das formigas-lava-pés, também chamadas de formigas-de-fogo, é bastante cobiçado por pesquisadores da área da toxicologia. Isso porque seus componentes podem vir a ser úteis à produção de novos fármacos e pesticidas. A dificuldade de extração de quantidades significativas de venenos de pequenos artrópodes – como essas formigas do gênero Solenopsis –, porém, tem sido um obstáculo para a pesquisa em laboratório.

Pensando nisso, um grupo de pesquisadores brasileiros desenvolveu um novo método para a captura de proteínas desse veneno. O biólogo Eduardo G. P. Fox, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), principal autor do artigo publicado em fevereiro deste ano na revista Toxicon, explica que o processo consiste em colocar grande quantidade de formigas-lava-pés em contato com um solvente apolar, provocando-as, desse modo, a liberar seu veneno instintivamente.

“Em aproximadamente 10 minutos é possível coletar 500 miligramas de veneno total”

O processo começa com a retirada de parte da população do formigueiro, que é colocada em um balde com antiaderente. Em seguida, uma torneira despeja lentamente água no recipiente, uma gota a cada dois segundos, a fim de separar os insetos da terra. “Isso leva cerca de três horas, mas, ao final, todas as formigas estão completamente isoladas, boiando na água, devido à grossa camada de cera que elas têm”, descreve Fox.

O segundo passo é a colocação dos indivíduos em contato com um solvente orgânico bastante apolar, como o hexano, com uma pequena quantidade de água. “Além de não se misturar com a água, a substância faz com que as formigas liberem seu veneno”, conta o biólogo. “Em aproximadamente 10 minutos é possível coletar 500 miligramas de veneno total”, contabiliza. Para essa quantidade são necessárias cerca de 150 mil formigas, mas o pesquisador informa que menos da metade de um formigueiro comum já tem esse montante.

Estudos com proteínas

O resultado é uma mistura bifásica, com os alcaloides do veneno e ceras das formigas na fase superior apolar e as proteínas na fase inferior aquosa. “Essas duas fases são facilmente separadas, usando uma pipeta ou um funil”, diz o pesquisador. A separação das proteínas da água pode ser feita por meio de um processo de evaporação frio conhecido como liofilização.

“O modo mais usado hoje é a retirada do veneno das formigas uma a uma”

O estudo começou há três anos, com pesquisa bibliográfica sobre métodos de extração de veneno dessas formigas no Brasil e no exterior. “Encontramos poucos artigos, todos produzidos nos Estados Unidos. Os métodos em uso levam muitas semanas de trabalho, e nenhum é simples e ágil como o que desenvolvemos”, revela.

Fox acredita que o método, que vem sendo testado no Laboratório de Entomologia Médica do Instituto de Biofísica da UFRJ, vai substituir os atuais processos nos laboratórios pela facilidade e economia de tempo. “O modo mais usado hoje é a retirada do veneno das formigas uma a uma, por um tubo capilar ou por dissecção”, diz. Segundo ele, é possível adaptar esse processo para obter veneno de outros artrópodes agressivos de pequeno porte, como outras formigas e vespas. A novidade poderá acelerar os estudos com proteínas de venenos, ainda escassos no país.

Camille Dornelles
Especial para Ciência Hoje/ RJ

Texto originalmente publicado na CH 304 (junho de 2013).

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