Céu mais povoado

A lista de aves que voam pelos céus do Brasil acaba de crescer. Um levantamento feito no Acre identificou pela primeira vez cinco espécies nunca antes avistadas no país. Com esses novos registros, sobe para 1.882 o número de espécies desse grupo encontradas em território brasileiro.

Flautim-rufo (Cnipodectes superrufus), espécie recém-descrita pela ciência e só agora encontrada no Brasil.

O estudo é fruto do doutorado do ornitólogo Edson Guilherme no Museu Paraense Emílio Goeldi. Ao longo de dois anos de pesquisa em campo, foi possível fazer o registro inédito no Brasil de cinco espécies: o flamingo-da-puna (Phoenicoparrus jamesi), o pica-pau-anão (Picumnus subtilis), o arapaçu-de-tschudi (Xiphorhynchus chunchotambo), o flautim-rufo (Cnipodectes superrufus) e o caneleiro (Pachyramphus xanthogenys).

O trabalho resultou ainda em um inventário de 655 aves encontradas na região. “Os resultados não me surpreenderam, pois sabia que o Acre era uma região de alta biodiversidade”, comenta Guilherme, que é professor da Universidade Federal do Acre. O ornitólogo acredita que novos levantamentos na região levarão à identificação de mais espécies.

“Além das 655 espécies compiladas, pelo menos outras 75 devem ser registradas no Acre à medida que novos estudos sejam realizados”, prevê. Essa estimativa se baseia em um levantamento bibliográfico feito por Guilherme sobre as aves que ocorrem nas regiões de fronteira do Acre com o Peru, a Bolívia e o estado do Amazonas, mas que ainda não foram registradas dentro dos limites territoriais acrianos.

Saíra-sete-cores-da-amazônia (Tangara chilensis), espécie conhecida em toda a Amazônia e facilmente encontrada nas florestas do Acre colhendo pequenos frutos nas copas das árvores.

Com essa perspectiva, o Brasil, que está atrás apenas da Colômbia e do Peru no ranking de países da América do Sul com maior diversidade de aves, pode não durar muito tempo nessa terceira colocação. “O aumento do conhecimento ornitológico em áreas remotas da Amazônia pode elevar o Brasil à posição de país sul-americano mais diverso em relação a aves em um futuro próximo”, prevê Guilherme.

Espécies preservadas

Acima, barbudo-de-coleira (Malacoptila semicincta) e, abaixo, bico-de-agulha-de-garganta-branca (Brachygalba albogularis), espécies endêmicas do sudoeste amazônico.

O ornitólogo também constatou no estudo o alto grau de preservação das aves no Acre. De acordo com uma de suas análises, aproximadamente 80% das espécies de aves residentes no estado estão adequadamente preservadas por áreas protegidas.

O sistema de proteção de áreas naturais no Acre inclui Unidades de Conservação de Proteção Integral e de Uso Sustentável e terras indígenas. Atualmente, essas áreas cobrem cerca de 47% do território acriano.

No entanto, há um tipo de ambiente único no Acre que não é protegido pelo estado e que preocupa o pesquisador: as campinas e campinaranas (áreas abertas extensas e com poucas árvores, geralmente cobertas por ervas que crescem em solos de areia branca).

“Existem espécies de aves que só ocorrem nessas campinas e, infelizmente, algumas cidades, como Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul, estão avançando sobre essas áreas”, alerta.

Para o pesquisador, a política do governo do Acre de criar novas reservas está no caminho certo. “Mas é preciso ter um olhar especial para esses ambientes que ainda estão fora do sistema de áreas protegidas do estado”, ressalta. 

Raquel Oliveira
Ciência Hoje On-line
04/08/2009