China e Índia ameaçam a instabilidade do planeta devido aos problemas ambientais causados tanto pelo crescente consumo de suas populações quanto pelas disputas por recursos naturais e fronteiras. Em artigo publicado na Science, pesquisadores de universidades nos Estados Unidos, China e Índia defendem que a cooperação desses países asiáticos é fundamental para evitar que as previsões climáticas alarmantes para as próximas décadas se concretizem.
A China e a Índia são potências mundiais que dividem espaço físico e recursos naturais. Territórios como o Himalaia e o Tibete são constantemente marcados por disputas políticas entre os governos dos dois países. Além disso, diversos rios cortam a região e são alvo de poluição e profunda ação antrópica que altera seus cursos.
Segundo o biólogo Peter Raven, um dos autores do artigo e presidente do Jardim Botânico de Missouri (Estados Unidos), esses dois países dividem e exploram uma área de grande extensão e, caso trabalhem juntos, os benefícios ambientais serão evidentes. “Se a China causa muitos danos desviando sua água, a Índia pode ser prejudicada, e vice-versa”, diz Raven. “Assim como os problemas surgem em conjunto, as soluções também podem ser encontradas dessa forma”, argumenta.
Problemas em comum
Os dois bilhões de habitantes de Índia e China se opõem em cultura e nos conflitos territoriais, mas se assemelham em hábitos de consumo. Juntos utilizam 9 milhões de litros de óleo de palmeira por ano, quase um quarto de toda a produção mundial.
Os pesquisadores mostram que, por um lado, China e Índia são responsáveis por manter 8% do crescimento mundial, mas, por outro, esses países podem ser considerados a dupla de consumo e destruição da Ásia. E, se continuarem nesse ritmo, a expectativa é de que, até 2020, eles respondam, por exemplo, por 64% do consumo total de madeira de todo o continente asiático. Segundo os cientistas, o monitoramento do consumo é essencial para que o mundo seja ambientalmente sustentável.
Em relação aos conflitos territoriais, o Himalaia, localizado em território indiano e chinês, sofre com pressões militares dos dois países. A Índia tem diversos projetos hidrelétricos na região, enquanto a China pretende desviar o curso do rio Yang Tsé (rio Azul, em português), para que ele não chegue às fronteiras indianas.
Além disso, esses países asiáticos já sentem as consequências de sua insistência na poluição desmedida. A China sofre com as reincidentes tempestades de areia, que estão associadas à pecuária e à desertificação e avançam para a América do Norte. Os indianos enfrentam a falta d’água e a extinção de suas espécies, consideradas patrimônio genético mundial.
Solução colaborativa
Os autores do artigo defendem que as duas potências têm muito que aprender uma com a outra. A Índia é muito mais eficiente em produção de energia e a China, por sua vez, em redução da pobreza. “Se eles divulgassem esses conhecimentos ou outros relacionados a projetos ambientais, a situação do planeta poderia melhorar substancialmente”, diz Raven, lembrando que em 2009 completaram-se 15 anos da realização de acordos entre as academias de ciência desses dois países.
Os pesquisadores sugerem que essas instituições pressionem os governos a adotar medidas que mudem a realidade econômica e ambiental a que estão submetidos. Além disso, eles garantem ser essencial que os países europeus usem de sua influência política para promover a união entre as duas nações.
Grandes países como o Brasil e os Estados Unidos são vistos como líderes e devem ajudar os menores e mais pobres. “Imagine um mundo de conflitos inúteis, com grande perda de biodiversidade, guerra por água e fome massiva.” Esse é o cenário que Raven descreve para o futuro, caso todos os países não colaborem para que China e Índia mudem sua postura.
Larissa Rangel
Ciência Hoje On-line