Degradação florestal: panorama atualizado

Aos desmatadores de plantão, um alerta: os satélites estão de olho. Todos os anos, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revela dados sobre o estado de devastação da Amazônia. Em agosto último, foram divulgadas novas informações sobre áreas florestais em processo de degradação – situação em que a mata é parcialmente destruída. Embora os números mostrem tendência de queda, as estatísticas ainda sugerem preocupação: de 2007 a 2013, a média foi de 14 mil km2 de áreas degradadas ao ano.

De 2007 a 2013, a média foi de 14 mil km2 de áreas degradadas ao ano

Um dos principais programas de inspeção florestal do Inpe é o Monitoramento do Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes). Esse programa, no entanto, tem uma limitação. Em sua metodologia, o processamento das imagens de satélite permite aos pesquisadores reconhecer apenas duas situações distintas: ou a floresta está intacta; ou ela está totalmente destruída – isto é, vitimada pelo chamado corte raso. O método, que não deixa viva uma folha sequer, é uma prática historicamente adotada por fazendeiros de todo o Brasil.

Acontece que existem estágios intermediários de devastação florestal – nos quais a mata não está totalmente intacta e nem totalmente destruída. É aí que entra em cena o conceito de degradação. Como essas nuances não podem ser contabilizadas pelas análises do Prodes, pesquisadores do Inpe desenvolveram, em 2007, um novo sistema de monitoramento: o Mapeamento da Degradação Florestal na Amazônia Brasileira (Degrad).

Esse programa aproveita as mesmas imagens de satélite usadas no Prodes. Porém, dá a elas um tratamento metodológico diferenciado. Com o Degrad, pesquisadores conseguem identificar facilmente quais são as áreas onde há cicatrizes de incêndio ou exploração predatória de madeira – complementando assim as lacunas de monitoramento.

Degradação florestal
Diferentes padrões de degradação florestal são captados pelo Degrad. Em (A), vê-se área moderadamente degradada. É um trecho em regeneração, após exploração madeireira. Em (B), vê-se degradação de alta intensidade, com exploração madeireira ativa. Em (C), há evidência de abertura de estradas de acesso, provavelmente para logística de exploração de madeira. (imagem: Inpe/ Divulgação)

Portanto, a função do Degrad é apontar áreas que, apesar de ainda não totalmente devastadas, podem estar na iminência de um processo de destruição.

Na prática, podemos entender a degradação como um processo no qual a floresta é devastada de uma maneira um tanto mais, digamos, discreta.

Valeriano: “Na degradação florestal, a mata continua lá, mas sem a mesma exuberância e com perdas significativas na biomassa original e na biodiversidade”

“Na degradação florestal, a mata continua lá, mas sem a mesma exuberância e com perdas significativas na biomassa original e na biodiversidade”, explica o biólogo Dalton Valeriano, do Inpe. “Uma floresta degradada também tem reduzida sua capacidade de prestar serviços ambientais, como, por exemplo, manter a produção de água de qualidade”, complementa o pesquisador.

Valeriano lembra que, tecnicamente, incêndios florestais e exploração predatória de madeira não são processos caracterizados como desmatamento, mas sim como degradação.

Novos dados

Após três anos de hiato, o Inpe voltou a divulgar os dados referentes às análises do Degrad. De acordo com os números atualizados, foram 24.650 km2 de áreas degradadas em 2011, 8.634 km2 em 2012 e 5.434 km2 em 2013. Em 2010, a degradação havia atingido 7.508 km2 de extensão.

A série histórica ainda é bem limitada: o levantamento só começou a ser feito em 2007. “E sete anos é um período muito pequeno para entendermos qualquer dinâmica florestal”, ressalva Valeriano. Até o momento, observa-se tendência de queda na degradação das matas amazônicas, apesar do salto em alguns anos.

“Em média, observamos algo próximo de 14 mil km2 de degradação ao ano”, diz o biólogo do Inpe. “Mas, em alguns anos, passamos de 25 mil km2”. Foi o caso de 2008 e 2011. Provável motivo: 2007 e 2010 foram anos de seca na Amazônia. Essa condição favorece a propagação do fogo – um dos fatores que influencia a degradação das florestas.

Segundo o Inpe, o Degrad é uma ferramenta importante para os órgãos de prevenção e combate ao desmatamento, pois permite intervenções em áreas cuja cobertura florestal ainda não foi completamente suprimida e convertida em pastagens ou culturas agrícolas.

Veja abaixo mapa interativo com dados sobre o desmatamento na Amazônia e as últimas notícias da CH On-line sobre a região

Contagem regressiva: CBERS-4

O sensoriamento remoto da Amazônia é feito principalmente com imagens dos satélites norte-americanos Landsat, e também com contribuições importantes do projeto CBERS – que deu o que falar, recentemente, quando do triste episódio de falha no lançamento de seu último modelo.

O próximo satélite brasileiro, prestes a ser lançado, é o CBERS-4. Ele será de grande auxílio na continuidade de programas como o Prodes e o Degrad. “Esse novo satélite terá ótimos sensores, que serão bastante úteis para qualquer atividade de monitoramento”, comenta Valeriano. “O lançamento do CBERS-4, na China, deve acontecer ainda este ano, no início do mês de dezembro.”

Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line