Mais um para a coleção

Um planeta rochoso que orbita uma estrela anã, como o Sol, está próximo o suficiente da Terra para permitir estudos detalhados sobre sua massa, densidade e atmosfera. A descoberta foi anunciada nesta quarta-feira (11/11) em artigo publicado pela revista Nature. O planeta GJ 1132b é muito quente para o desenvolvimento de organismos como os que conhecemos, mas apresenta semelhanças com o nosso.

O leitor de boa memória saberá que não se trata da primeira descoberta de um exoplaneta parecido com a Terra – em julho, por exemplo, a Nasa anunciou a existência do Kepler-452b, descrito como um “primo maior e mais velho” do nosso planeta. Entretanto, a distância relativamente curta entre a Terra e o GJ 1132b permitirá fazer em breve uma série de observações que poderão fornecer mais informações sobre a composição e funcionamento da sua atmosfera.

GJ 1132b e a estrela anã por ele orbitada encontram-se a 12 parsecs de distância, o equivalente a cerca de 39 anos luz. O exoplaneta tem raio 1,2 vez maior que o da Terra e densidade similar ao planeta azul. Além disso, transita em torno de sua estrela com ciclos de duração de 1,6 dias e está muito mais próximo dela do que a Terra em relação ao Sol – por isso, a temperatura estimada por lá é de 137 a 307ºC.

Telescópio localiza planeta GJ1132b
A detecção da estrela anã vermelha e, posteriormente, do planeta GJ1132b foi realizada no telescópio instalado em La Serena, no leste do Chile. (foto: Jonathan Irwin)

A descoberta é fruto de um trabalho de mais 20 pesquisadores de diversas nacionalidades, iniciado em 2008 pelo projeto MEarth, um programa de investigação astronômica que usa pequenos telescópios robóticos para observar estrelas anãs e buscar exoplanetas semelhantes à Terra. Em janeiro de 2014, a estrela GJ1132, uma anã vermelha, foi observada pela primeira vez. Em maio daquele ano, foi detectada uma variação regular da intensidade da luz da estrela, sugerindo a existência de um planeta em órbita à sua volta. 

Formação semelhante à da Terra

Depois que o planeta foi detectado, os cientistas começaram a investigar suas características, a começar pela densidade, fundamental para esclarecer a composição dos corpos celestes. “Uma densidade similar à da Terra sugere que o planeta é composto, majoritariamente, por rochas, como a Terra”, explica Zachory Berta Thompson, astrônomo do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, e autor principal do artigo.  

Devido ao tamanho parecido com o da Terra, os pesquisadores acreditam também que o planeta, assim como o nosso, contou com a água para se formar. Contudo, como o GJ1132b é muito mais quente, essa água provavelmente evaporou, deixando apenas as moléculas mais pesadas presas na atmosfera do planeta. “A luz ultravioleta dissocia a molécula de água, separando o hidrogênio do oxigênio. Como o hidrogênio é um gás muito leve, ele escapa do planeta, mas o oxigênio permanece porque é um gás pesado”, detalha Enos Picazzio, astrônomo do Instituto de Astronomia e Geociência da Universidade de São Paulo. 

Zoológico planetário

Com o anúncio do GJ 1132b, o número de planetas descobertos até hoje chega a 1977, formando 1257 sistemas planetários além do solar. “O que sabemos até agora sobre os planetas encontrados é que estes apresentam uma variedade de características impressionante, constituindo um autêntico ‘zoo” planetário’”, brinca o astrofísico português Vasco Neves, pós-doutorando do Departamento de Física Teórica e Experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e integrante da pesquisa. 

“Estamos entrando numa era de ouro para a exoplanetologia, na transição entre a detecção de novos planetas e sua caracterização e a procura de bioassinaturas”

O Planet Habitability Laboratory, um laboratório vinculado a Universidade de Porto Rico e dedicado ao estudo da habitabilidade de exoplanetas, tem um catálogo de exoplanetas que lista 31 em zona habitável, o que significa que estão inseridos no espaço ao redor de sua estrela onde é possível encontrar água líquida na superfície do planeta. Destes, 16 foram descobertos em volta de anãs vermelhas, semelhantes à estrela do GJ1132b. Pelo seu pequeno tamanho, essas estrelas favorecem a descoberta de planetas, uma vez que as técnicas de pesquisa atuais analisam a variação de luminosidade e de velocidade radial das estrelas produzidas pela atração gravitacional de um planeta. Quanto mais próximos os planetas estiverem de suas estrelas, mais fácil é sua detecção. “As anãs vermelhas serão os primeiros alvos de procura de vida fora do sistema solar, quando o telescópio espacial James Webb for lançado em 2018”, disse Vasco Neves à CH Online. 

Os próximos passos da pesquisa envolvem estudos mais detalhados sobre a atmosfera do novo planeta. Quando estiver em atividade, o telescópio James Webb será usado para investigar, por exemplo, o perfil térmico do planeta e até a velocidade de seus ventos. Além dele, outros telescópios terrestres e missões espaciais serão lançados nos próximos anos. “Estamos entrando numa era de ouro para a exoplanetologia, na transição entre a detecção de novos planetas e sua caracterização e a procura de bioassinaturas, ou seja, substâncias, elementos, moléculas, entre outros, que poderão dar uma indicação indireta da existência de vida em sua atmosfera”, aposta Neves.

Clique aqui para ler o texto que a Ciência Hoje das Crianças preparou sobre este assunto.

Iara Pinheiro
Instituto Ciência Hoje/RJ