Um cheirinho no ar…

Como analisar compostos liberados por plantas em locais distantes de laboratórios de pesquisa, como fazendas e florestas, sem destruí-las ou transportá-las? Até recentemente, a captura de substâncias voláteis só podia ser feita com o uso de equipamentos sofisticados e caros. Graças a um método desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza (CE), é possível agora colher o aroma de flores, preservando seus componentes naturais por até uma semana sem despedaçá-las. E tudo a um custo baixo.

“O método convencional exige a retirada da inflorescência, ou parte da planta que contém o composto, e seu transporte para o laboratório em baixa temperatura”, explica o químico da Embrapa Guilherme Zocolo. “Já a técnica que desenvolvemos adapta tecnologias para uso em condições não controladas e abre uma série de possibilidades de aplicações em pesquisa, como o monitoramento da produção de substâncias que atraem polinizadores para plantas com fins agrícolas ou ecológicos, a análise de compostos que atraem ou repelem insetos-pragas, o diagnóstico de doenças de plantas e animais, assim como o controle de qualidade de matérias-primas e insumos vegetais”, complementa.


Pesquisador coleta amostras de dendezeiro.
(foto: Embrapa Amazônia Ocidental)

Segundo Zocolo, o novo método não danifica a fonte dos compostos voláteis, uma vez que a planta não precisa ser removida ou cortada. A análise é feita na planta viva em condições que não afetam seu metabolismo original, o que confere uma visão mais fiel do comportamento de emissão dos compostos.

Desde a concepção até o desenvolvimento da técnica, a equipe, composta ainda por outros três químicos da Embrapa, levou em torno de um ano. Os pesquisadores adaptaram uma bateria portátil a um equipamento de vácuo e usaram materiais específicos para criar cartuchos acoplados a uma bomba de vácuo que aspira o ar para dentro deles.

“Trata-se de um processo simples que pode ser adotado por qualquer grupo de pesquisa a um custo relativamente baixo”, diz Zocolo. “Nosso objetivo desde o início foi desenvolver um sistema que pudesse ser facilmente montado por colegas de forma a reduzir os custos com a importação de equipamentos.”

 

Alicia Ivanissevich
Ciência Hoje/RJ