Um olhar sobre a divulgação científica no Brasil

A divulgação científica viveu em 2002 um ano de avanços significativos no Brasil. A celebração dos vinte anos de Ciência Hoje e o lançamento de novas revistas científicas para o público leigo foram alguns dos eventos que marcaram uma nítida intensificação das atividades de popularização da ciência. Para coroar essa boa safra, um lançamento recente vem suprir uma lacuna no mercado editorial brasileiro, no domínio da reflexão sobre a divulgação científica.

Detalhe da capa de Ciência e público – caminhos da divulgação científica no Brasil

O livro Ciência e público , organizado por Luisa Massarani, Ildeu de Castro Moreira e Fatima Brito e lançado pela Casa da Ciência/UFRJ, oferece em 28 artigos, depoimentos e entrevistas um panorama bastante diverso sobre a prática da divulgação científica. Os textos dissecam a produção brasileira nesse domínio nos mais diversos meios. São contempladas suas estratégias e funções, bem como a forma como o conceito de ciência é construído junto ao público.

Entre os autores, encontram-se alguns dos nomes de maior destaque na divulgação científica brasileira, como o físico Ennio Candotti (um dos fundadores de Ciência Hoje ), o jornalista José Monserrat Filho (editor do Jornal da Ciência ) ou o zoólogo Ângelo Machado. O biólogo e jornalista José Reis , considerado o pai da divulgação científica no Brasil, está presente também em uma entrevista.

Os temas dos artigos vão desde as diferentes manifestações da divulgação científica (em museus, no rádio, na TV, na internet etc.) à educação científica e ao papel do jornalismo científico para a consolidação da cidadania. O livro contempla ainda o caráter histórico da divulgação científica: o artigo de Ildeu de Castro Moreira e Luisa Massarani mostra como essa prática remonta pelo menos aos anos 1810 no Brasil, o que contraria um certo senso comum segundo o qual a divulgação científica só se teria consolidado em nosso país nos anos 1980. Com a mesma preocupação, o livro republica ainda um interessante artigo dos anos 1930 do fisiologista Miguel Osório de Almeida que discute a importância da vulgarização do saber científico.

Ciência e público é o primeiro volume da bem-vinda coleção Terra Incógnita , que pretende “avaliar o significado atual da divulgação científica, discutir seus pressupostos e suas práticas, empenhar-se em torná-la mais eficaz e integrada à nossa realidade social e explorar novos meios, temas e enfoques”. Que venham os próximos!

 

Na fronteira do conhecimento

Outro lançamento recente contempla uma dimensão específica da divulgação: o Jornalismo científico . Escrito por Fabíola de Oliveira, última vencedora do Prêmio José Reis de Jornalismo Científico (2002), a obra pretende oferecer um panorama dessa atividade no Brasil e no mundo.

Motivado pela “total inexistência de bibliografia brasileira na área com conteúdo didático voltado para estudantes de jornalismo”, o livro se dirige também a profissionais e interessados em geral. A obra traz um capítulo com uma perspectiva histórica do jornalismo científico e oferece depoimentos de profissionais brasileiros e um interessante guia de fontes institucionais no Brasil.

O livro se propõe como missão contribuir para a formação de jornalistas científicos com visão crítica, cientes do seu papel de “porta-vozes da fronteira do conhecimento humano”.

 

Ciência e público – caminhos da divulgação científica no Brasil
Luisa Massarani, Ildeu de Castro Moreira e Fatima Brito (org.)
Rio de Janeiro, 2002, Casa da Ciência/UFRJ
230 páginas
Jornalismo científico
Fabíola de Oliveira
São Paulo, 2002, Contexto
92 páginas

 

 

Bernardo Esteves
Ciência Hoje on-line
29/01/03