Diabetes e TV

Se você é um daqueles que gostam de passar boa parte do dia na frente da TV, vai o alerta que brotou de um estudo amplo: cada hora diária na frente do aparelho aumenta o risco de a pessoa desenvolver diabetes.

O diabetes do tipo 2 é a incapacidade de o corpo ‘queimar’ açúcar. Mais comum em idosos e obesos, o portador desse quadro acaba com altos níveis de açúcar no sangue, o que causa danos a tecidos do organismo.

A relação entre ver TV e risco de diabetes é uma conclusão de estudo publicado pelo grupo de Andrea Kriska, da Universidade de Pittsburgh (EUA), na revista Diabetologia (01/04/15, on-line), da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes.

Os primeiros resultados, publicados em 2002, mostraram que uma intervenção no estilo de vida dos participantes (perda de peso e atividade física moderada, como andar) conseguiu reduzir a incidência do diabetes

Kriska e colegas analisaram dados de 3.234 adultos, todos com mais de 25 anos de idade, norte-americanos, com sobrepeso e com alto risco de desenvolver diabetes.

A ideia inicial desse amplo estudo – denominado Programa de Prevenção de Diabetes – era postergar ou prevenir o diabetes. Os primeiros resultados, publicados em 2002, mostraram que uma intervenção no estilo de vida dos participantes (perda de peso e atividade física moderada, como andar) conseguiu reduzir a incidência do quadro.

Mas a equipe de Kriska se fez a seguinte pergunta: a intervenção no estilo de vida teve algum impacto sobre o tempo que a pessoa passava sentada (sedentária). Em busca da resposta, os pesquisadores foram aos dados do programa.

Kriska e colegas basicamente dividiram os dados dos voluntários em três grupos: i) pessoas que tomavam medicamentos para diabetes; ii) os que mudaram o estilo de vida (perda de peso e 150 minutos de exercício por semana); iii) um grupo-controle. Nos três grupos, as horas passadas diariamente na frente da TV eram praticamente iguais: cerca de 2h20. Também era igual o tempo que os participantes permaneciam sentados no trabalho.

Menos TV, menos sedentarismo

A primeira observação foi que o grupo do ‘estilo de vida’ diminuiu o tempo na frente da TV. Esse grupo, em relação aos outros dois, diminui em quase quatro vezes o tempo ‘sentado’ (TV mais trabalho). “Esse achado é particularmente interessante, pois houve uma diminuição no tempo ‘sentado’, mesmo que os objetivos do programa não incluíssem essa meta”, disse Kriska. Segundo ela, um programa que incluísse especificamente a redução desse tempo poderia trazer grandes mudanças em relação ao sedentarismo e melhorias no quadro de saúde ainda maiores do que as encontradas no estudo.

Pessoas caminhando
Mudanças no estilo de vida, como perder peso e praticar exercícios, diminui o tempo que se passa sentado. (foto: Trailnet/ Flickr – CC BY-SA 2.0)

Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores: feitos todos os ajustes em relação a idade, sexo, tratamento e tempo de atividade física, os pesquisadores concluíram que cada hora diária passada na frente da TV aumenta em 3,4% o risco de diabetes.

Kriska: “O que nós sugerimos é que, além da atividade física e alimentação, deveríamos também estar mais conscientes sobre o tempo que passamos sentados”

Alerta: como o estudo foi feito com adultos com sobrepeso e pré-diabetes (ou seja, com alto risco de desenvolver o quadro), esse percentual (3,4%) não pode ser aplicado a todas as pessoas. “Isso não quer dizer que reduzir o sedentarismo não seja importante para pessoas com peso normal, sem pré-diabetes, como têm sugerido estudos que já associaram tempo ‘sentado’ a quadros de saúde mais desfavoráveis em outras populações. Além disso, é importante notar que nossos achados não mudam em nada o que já se sabe sobre a relação entre atividade física e diabetes. O que nós sugerimos é que, além da atividade física e alimentação, deveríamos também estar mais conscientes sobre o tempo que passamos sentados”, disse Kriska, em entrevista à CH.

Vale lembrar que o diabetes do tipo 1 é uma doença autoimune, em que células de defesa do organismo atacam e danificam o pâncreas, onde a insulina, o hormônio que ‘queima’ o açúcar, é produzida.

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ