É dos barbudos que elas gostam menos

 

Se entre as décadas de 1960 e 1980 a barba era considerada um atrativo pelas mulheres, um símbolo de virilidade, hoje ela passou ser rejeitada não só entre o público feminino, mas também nas relações entre homens, principalmente em ambientes de trabalho. Esta é a conclusão de uma dissertação de mestrado defendida recentemente no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

O objetivo do trabalho era avaliar se o uso de barba é capaz de gerar impacto à primeira vista. Para isso, o psicólogo Altay Alves de Souza realizou testes com públicos diferentes: jovens universitários e profissionais de recursos humanos, responsáveis por contratação de empregados para empresas de grande porte.

Os participantes do estudo tiveram que avaliar fotos de homens com e sem barba, bigode e cavanhaque.

Um dos experimentos envolveu a participação individual de 116 estudantes (68 homens e 38 mulheres), entre 17 e 31 anos. Eles tinham que avaliar uma das fotos tiradas com homens de características similares, na faixa dos 30 anos, que podiam ter ou não barba, bigode e cavanhaque. Os participantes – que não conheciam o objetivo do estudo – julgaram 12 qualidades pessoais, entre as quais inteligência, competência, responsabilidade, posição política, atratividade, agressividade, simpatia e status social.

 

Para os participantes de ambos os sexos, os modelos de barba e bigode pareceram mais velhos que os homens sem barba. Porém, essa impressão pode não estar ligada à quantidade de pêlo facial, pois os homens com cavanhaque foram considerados mais jovens do que aqueles de bigode, por exemplo. Os barbudos foram ainda considerados os mais responsáveis, ao lado dos de bigode, em comparação com os de cavanhaque, e mais cultos em relação a ambos.

 

No entanto, a avaliação dos barbudos foi menos satisfatória no quesito atratividade. “De fato, 83% das estudantes universitárias demonstraram sua preferência por homens sem barba ou só com bigode”, afirma Souza em seu estudo. “Esperávamos que homens de barba – um atributo físico associado com masculinidade, maturidade, dominância e status – fossem avaliados como mais atraentes pelas mulheres, o que não ocorreu”. Para elas, as faces mais atraentes eram as intermediárias, nem excessivamente maduras, nem excessivamente infantis.

 

Segundo o psicólogo, os resultados indicam que a barba pode ter evoluído como um sinal de dominância através de seleção intra-sexual – competição entre machos por dominância e recursos – e não seleção intersexual – a escolha preferencial exercida pelas fêmeas.

 

Símbolo de rebeldia

 

Em outro experimento, Souza também apresentou fotos de homens com e sem barba, cavanhaque e bigode para dezenove profissionais da área de recursos humanos, entre 30 e 62 anos, responsáveis pela contratação em grandes empresas de São Paulo. Os participantes tiveram que apontar, entre os modelos, qual seria o melhor empregado, colega de trabalho e chefe, além do mais organizado e criativo.

 

O psicólogo verificou que, em 60% dos casos, os homens sem barba, bigode ou cavanhaque tiveram a avaliação mais positiva. “Os empregadores associam a barba a atitudes não conformistas”, ressalta Souza em seu estudo. “Numa seleção como essa, homens que apresentam sinais claros de disposição para se adequar às regras podem ser preferidos pelos empregadores. Estudos como este podem ajudar profissionais de recursos humanos a se desvincularem das primeiras impressões e darem atenção aos aspectos mais relevantes do futuro empregado.”

 

Símbolo de rejeição às normas vigentes, principalmente nos períodos de repressão, a barba foi usada por muitos jovens da época, inclusive ícones de esquerda como Fidel Castro, Che Guevara e Lula. “A barba pode representar uma estratégia escolhida por esses líderes políticos para reforçar suas mensagens.” Essa orientação política se verificou também nos experimentos de Souza: “a posição política dos modelos com barba foi considerada mais de esquerda em comparação com os de face limpa”

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Mário Cesar Filho

 

Ciência Hoje On-line

01/03/2006