Pedófilos na mira

A internet facilita a vida de milhões de pessoas. Mas, em mãos erradas, pode ser usada para a prática de atos criminosos. E um dos principais crimes cometidos na rede mundial de computadores é, sem dúvida, a pedofilia.

O método se baseia na análise da câmera do acusado, de imagens presentes em seu computador ou até de fotos divulgadas em suas redes sociais

Com a ajuda de especialistas em informática, não é tão difícil localizar usuários de computadores que compartilham imagens e vídeos relativos a esse tipo de conduta ilegal. Porém, uma vez encontradas e indiciadas, essas pessoas normalmente alegam que são apenas ‘usuárias’ desse conteúdo, afirmando que não o produzem. Por isso, não seriam pedófilos propriamente ditos, e, por falta de provas, a condenação é improvável.

Mas esse tipo de saída pela tangente pode estar com os dias contados. O cientista da computação Danillo Roberto Pereira, Faculdade de Informática de Presidente Prudente da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), e seu orientando de graduação Guilherme Sekine criaram, para um projeto de conclusão de curso, um sistema capaz de identificar a origem de fotografias. O método se baseia na análise da câmera do acusado, de imagens presentes em seu computador ou até de fotos divulgadas em suas redes sociais. E os resultados têm se mostrado excelentes.

Como funciona?

O objetivo do trabalho era, a partir de uma imagem, identificar a câmera que a gerou. Depois disso, seria em princípio possível saber se outras fotografias teriam sido originadas por esse mesmo equipamento.

O programa busca os chamados pixels defeituosos das câmeras

Para conseguir essa identificação com eficácia, os pesquisadores desenvolveram um programa que busca os chamados pixels defeituosos das câmeras. Geralmente imperceptíveis em um primeiro olhar, esses pixels são muito comuns na maioria das imagens digitais que produzimos.

Existem dois tipos básicos de pixels defeituosos: os hot pixels, que são pixels que ficam mais claros do que os outros de seu entorno; e os dead pixels, que ficam mais escuros.

O programa desenvolvido na Unoeste localiza facilmente esses pixels defeituosos. Com base em cálculos matemáticos e estatísticos, ele determina, por meio de comparações com outras imagens, de qual câmera a foto se originou. Em diferentes testes, os pesquisadores atingiram 95% de precisão nas análises de fotografias.

Padrão de pixels de uma imagem
Foto tirada por uma câmera (à esquerda) e padrão de ‘pixels’ dessa mesma foto (à direita). Os ‘pixels’ indicados pelas linhas coloridas podem comprovar que as imagens vêm da mesma câmera. (imagem: Divulgação)

A explicação: se tirarmos 10 fotos com uma mesma câmera, é muito provável que, em todas elas, os hot pixels e os dead pixels estejam distribuídos em padrões similares. Conhecendo esses padrões, fica fácil saber se determinada fotografia foi registrada por certa câmera – o que pode ser de muita utilidade durante investigações policiais.

“Os métodos existentes para analisar a origem de fotos são
complexos e muito custosos”, conta Pereira. “Essa técnica que desenvolvemos na Unoeste é original e bastante simples.” Aliás, o projeto já está concluído – e pronto para ser colocado em ação contra os pedófilos da rede.

Gabriel Toscano
Ciência Hoje On-line