Pelo fim das verrugas

Uma pomada produzida na Universidade Federal do Alagoas (Ufal) promete tornar eficaz e indolor o tratamento contra verrugas genitais causadas pelo vírus do papiloma humano (HPV). Desenvolvido a partir de cascas do tronco de uma árvore conhecida como barbatimão, o medicamento causa regressão das verrugas e diminui a quantidade do vírus no organismo sem causar efeitos colaterais.

A ideia de usar o barbatimão para tratar as verrugas genitais surgiu da sabedoria popular. Segundo Luiz Carlos Caetano, farmacêutico e coautor da pesquisa, a planta é conhecida por fazer contrair o tecido do canal vaginal e, por isso, é chamada popularmente de casca da virgindade. “Achamos que essa característica do barbatimão poderia causar também a contração e regressão do tecido das verrugas”, explica.

Durante 12 anos, a equipe de Caetano buscou a fórmula ideal da pomada até descobrir que 20% do medicamento deveriam ser compostos pelo extrato da casca de barbatimão. A nova fórmula foi testada em 46 pacientes portadores do HPV e que apresentavam verrugas na parte externa dos órgãos genitais.

“Os pacientes foram acompanhados por três anos e não apresentaram recidiva da lesão”

Após dois meses de tratamento, as verrugas de todos os pacientes sumiram sem deixar cicatrizes. Caetano aposta que, em alguns casos, a regressão total das verrugas pode ser atingida em menos tempo. “Percebemos que, nesses pacientes, a pomada deveria ser usada duas vezes ao dia durante dois meses, mas o tempo de cura pode ser ainda menor”, explica.

Segundo Manoel Álvaro Neto, médico do Hospital Universitário da Ufal que também participou da pesquisa, em nenhum dos casos as verrugas voltaram a aparecer. “Os pacientes foram acompanhados por três anos e não apresentaram recidiva da lesão”, explica. Caetano acrescenta que o resultado foi positivo mesmo em pacientes imunodeprimidos como os portadores do vírus da Aids. “Nós tratamos crianças, idosos e pessoas com HIV e as verrugas sumiram completamente, sem deixar marcas ou retornar após o término do tratamento.”

Pomada de barbatimão
Feita a base de barbatimão, a nova pomada promove a regressão de verrugas genitais causadas pelo HPV sem causar efeitos colaterais e sem reaparecimento da lesão. (foto: Luiz Carlos Caetano)

Além da eficácia, o tratamento feito com a pomada de barbatimão se destaca pela ausência de efeitos colaterais. Atualmente, as verrugas genitais são eliminadas através de processos invasivos e doloridos como o bisturi elétrico e a cauterização. “Já existem tratamentos com pomadas, mas elas atingem células saudáveis que ficam ao redor da verruga e podem causar deformações e lesões ainda mais graves”, complementa Caetano.

Mecanismo de ação

Para combater as verrugas, a nova pomada faz uso do próprio sistema de defesa do barbatimão. Segundo Caetano, a casca do tronco da árvore é rico em taninos, um conjunto de substâncias que protegem a planta do ataque de herbívoros e de microrganismos causadores de doença. No caso das verrugas, os taninos causam a desidratação e morte do tecido sem atingir as células saudáveis.

Além da regressão das verrugas, a pomada é capaz de alterar a estrutura de proteínas do HPV, eliminando parte da carga viral. No entanto, ainda não é possível associar o medicamento à cura do HPV

Além da regressão das verrugas, a pomada de barbatimão é capaz de alterar a estrutura de proteínas do HPV, eliminando grande parte da carga viral. No entanto, ainda não é possível associar o medicamento à cura do HPV. Sexualmente transmissível, o vírus tem mais de 200 tipos e alguns causam manifestações mais graves do que as verrugas, como cânceres de colo de útero, pênis e ânus.

Agora, a equipe irá avaliar a atuação da pomada de barbatimão contra um dos cânceres causados pelo HPV. “Tratamos uma paciente com câncer de colo de útero grau 2 e a doença foi reduzida para grau 1”, diz Caetano.

Além disso, indústrias farmacêuticas interessadas em produzir e comercializar a pomada entraram em contato com a equipe. “Estamos tentando conseguir a patente do medicamento, o que pode levar de três a quatro anos”, completa.

Mariana Rocha
Ciência Hoje On-line