Pisando em… copos

Mais uma vez, vem do lixo a produção de objetos que ajudam a melhorar a vida de moradores de comunidades carentes. Ao juntar copos de café descartados e cascas de coco de babaçu, pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPa) transformaram esses rejeitos em lajotas tão resistentes e belas quanto as disponíveis no mercado, de modo a forrar o chão de residências populares. O produto, batizado de ecopiso e com patente já registrada, será fabricado e aplicado agora por pescadores de Colares, município do nordeste paraense.

Buscando uma alternativa barata para cobrir o chão batido de casas de mulheres que trabalham como abridoras de coco de babaçu, no Maranhão, a engenheira mecânica Poliana Borges Bringel examinou o lixo dessa comunidade durante sua pesquisa de mestrado na UFPa, em 2007. Depois de analisar os rejeitos, ela concluiu que as cascas do coco, associadas a copos de café descartáveis, formavam uma mistura muito consistente e ideal para a fabricação de pisos: o plástico (poliestireno) e a fibra do babaçu juntos conferem dureza e resistência às lajotas comparáveis às encontradas no mercado, mas a um custo de produção muito inferior. Além disso, o material é menos pesado e confere maior conforto térmico.


Após coletaram os copos de café, os moradores lavam os plásticos com água sanitária e, depois, os trituraram manualmente. (foto: Alexandre Moraes)

Assim surgiu o ecopiso, com dimensões, cor e acabamento semelhantes aos das cerâmicas convencionais. As peças do piso ‘ecológico’ também têm uma face enrugada, para facilitar à aderência ao chão, e outra lisa, que recebe o tratamento estético. A marca já se encontra registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

A engenheira química Carmen G. Barroso Tavares Dias, orientadora de Bringel e coordenadora do Laboratório de ecocompósitos da UFPa, vem trabalhando para expandir os benefícios do ecopiso para outras comunidades. “Escolhemos famílias de pescadores em Colares, com condições habitacionais e de saneamento similares às da comunidade-piloto do Maranhão”, informa Dias, lembrando que casas de chão batido deixam seus moradores mais suscetíveis a doenças, e a aplicação do ecopiso ajudaria a melhorar essa situação.

O objetivo, segundo a pesquisadora da UFPa, é envolver os pescadores em uma atividade sustentável e capaz de gerar renda extra, participando de todo o processo de produção. O projeto já começou.

“Os moradores coletaram muitos copinhos de café; em seguida, os lavaram com água sanitária e, depois, os trituraram manualmente”, conta. “Orientados por nossa equipe, eles também coletaram serragem de madeira de lei de uma serraria próxima da comunidade, de modo a usá-la como matéria-prima na produção do ecopiso”, acrescenta Tavares Dias.

Agora, o material deve ser beneficiado a determinada pressão e temperatura. Seguindo as instruções dos pesquisadores, os pescadores poderão dar acabamento às placas usando uma prensa hidráulica. Depois de pronto, o ecopiso poderá ser usado nas residências e até comercializado para outros moradores da região.

 

Alicia Ivanissevich
Ciência Hoje/ RJ