Desde pequena sempre fui muito curiosa. Minha avó me chamava de xereta, e não era um elogio. A verdade é que todo mundo ficava sem paciência com as perguntas que eu fazia e ninguém sabia responder. Não demorou para que minha mãe me colocasse numa escolinha, onde uma professora aposentada ensinava crianças a ler, escrever e fazer contas. Com quatro anos e meio, eu já lia e escrevia. Sempre gostei muito de matemática. Mas já no ginásio, atual ensino fundamental II, eu ouvi: “você nunca vai aprender física”.
Da graduação em física pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – onde como resposta ao meu pedido de bolsa de iniciação científica ouvi: “você não vai usar física para nada, por que vou desperdiçar uma bolsa contigo?” – fui direto para o mestrado na Universidade de São Paulo (USP, campus São Carlos).
Iniciei o doutorado na Escola de Engenharia Politécnica da USP, em São Paulo. De lá, fui para a Itália com uma bolsa sanduíche. Quase no final da bolsa fui convidada a ir para a Inglaterra, desenvolver minha pesquisa na Universidade de Manchester, onde obtive o título de PhD.
Em 1989, 101 anos depois da abolição da escravatura, eu me tornei a primeira negra brasileira com PhD em física. Mas “no Brasil não existe racismo”, de acordo com um certo vice-presidente da República.
Sônia Guimarães
Instituto Tecnológico da Aeronáutica