Outra cartomante

Na expectativa de que lhe fosse previsto um futuro melhor, personagem de Lima Barreto coloca leitores diante da realidade crua

CRÉDITO: ADOBESTOCK

Não foi somente o Bruxo do Cosme Velho que teve uma cartomante em sua vida literária, outros autores de literatura brasileira também adentraram pelo universo mágico das pitonisas, incluindo Lima Barreto.

Muito mais conhecido pelo romance Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto escreveu crônicas e contos que igualmente denunciavam a situação política que o Brasil atravessava no início do século 20, além de expor os problemas sociais daquele período. Neto de escrava alforriada, Lima Barreto era preto, pobre e, por consequência, foi excluído da sociedade e do meio acadêmico. Tornou-se alcoólatra, ou alcoolista – como se diagnosticava na época –, foi internado duas vezes no Hospital Nacional dos Alienados, até que, em 1922, sofreu um ataque cardíaco e faleceu. Sua importância como escritor só foi reconhecida após a sua morte.

Mais ou menos 40 anos depois que a vidente de Machado de Assis previu um final feliz para Camilo e Rita, Lima Barreto escreveu A cartomante e deu à sua pitonisa a mesma autoridade que a “orácula” de Machado teve: “Madame Dadá, sonâmbula, extralúcida, deita as cartas e desfaz toda espécie de feitiçaria, principalmente a africana”. Eram essas as qualidades que o anúncio da vidente de Lima Barreto expunha aos passantes.