Superfungos e aquecimento global

A Candida auris, um ‘superfungo’ que causa infecção invasiva e letal, pode vir a ser considerado o primeiro patógeno fúngico humano originado do impacto do aquecimento global. Estudos recentes mostram que esse agente infeccioso teria sido capaz de sair do ambiente natural para infectar seres humanos, resistindo a temperaturas altas. A falta de conhecimento sobre a diversidade fúngica é mais uma ameaça à humanidade, que não está preparada para enfrentar a emergência desses novos patógenos.

CRÉDITO: FOTO ADOBESTOCK

De tempos em tempos, aparecem ou reaparecem agentes infecciosos capazes de provocar doenças e mortes em várias regiões do planeta. Os mais impactantes levaram a doenças com epidemias e surtos marcantes na história mundial: peste bubônica, cólera, gripes ‘espanhola’ e suína, ebola, a pandemia causada pelo vírus HIV – que surgiu na década de 1980 e até hoje impacta a humanidade – e, mais recentemente, a pandemia de covid-19. Mesmo após o controle da maioria dessas epidemias e surtos, os patógenos persistem.

Entre os agentes mencionados que causam doenças, destacam-se vírus e bactérias. Entretanto, embora reais, essas informações nos levam a uma percepção errônea sobre a relevância de outros patógenos, como fungos e protozoários, responsáveis por problemas de saúde de grande impacto. O isolamento e a identificação do ‘superfungo’ Candida auris parece ter modificado esse paradigma.

Como tudo começou

A primeira descrição da existência de C. auris foi publicada em 2009 no Japão. A denominação auris se deve ao sítio de isolamento do fungo, o canal auricular de um paciente. Os primeiros casos de candidíase por C. auris foram então reportados e o fungo se tornou destaque na mídia. 

A preocupação das agências de saúde mundiais foi confirmada após 13 anos, à luz de uma miríade de estudos desenvolvidos por grupos de pesquisa em diferentes países. Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu esse patógeno no grupo prioritário de espécies fúngicas causadoras de infecções invasivas e letais em humanos. Hoje, o fungo C. auris já é encontrado em todos os continentes habitados, com surtos ocorrendo em diferentes países, inclusive no Brasil (figura 1).

Hoje, o fungo C. auris já é encontrado em todos os continentes habitados, com surtos ocorrendo em diferentes países, inclusive no Brasil

Figura 1. Linha do tempo desde o primeiro isolamento do fungo Candida auris em diferentes países até 2021

CRÉDITO: CDC E EUROSURVEILLANCE