Toda a atenção para a toxoplasmose

Nas últimas décadas, a toxoplasmose ganhou relevância no cenário da saúde pública brasileira, tanto pela gravidade da doença em pacientes com deficiência no sistema de defesa (imunossupressão) quanto pelo risco de nascimentos de crianças com sequelas da infecção. Embora o tratamento seja limitado a poucos medicamentos usados há mais de 70 anos, novas alternativas encontradas em farmácias e drogarias vêm sendo propostas com êxito. 

CRÉDITO: TOXOPLASMA GONDIIILUSTRAÇÃO 3D_ADOBE STOCK

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 15 milhões de brasileiros que moram em áreas urbanas e 2,3 milhões de moradores rurais não têm acesso a fontes seguras de água para suas necessidades domésticas e pessoais. A má higienização causada pela falta de água potável é um fator de maior vulnerabilidade para doenças adquiridas através do consumo de alimentos e água contaminados. Esse é o caso da toxoplasmose, prevalente em todo Brasil.

Embora as autoridades não a reconheçam como doença negligenciada, o país ocupa o topo da lista de surtos e casos de toxoplasmose no mundo. Entre 2010 e 2018, foram registrados 14 surtos no Brasil, correspondendo a 56% dos 25 notificados nos últimos 50 anos.

Além de ser transmitido por via oral, o parasita Toxoplasma gondii é capaz de ultrapassar barreiras importantes do nosso organismo, como a placenta. Por isso, pode ser transmitido para o feto em desenvolvimento se a infecção ocorreu durante a gestação – é a denominada toxoplasmose congênita.

Nos bebês, a toxoplasmose congênita pode ser assintomática, além de provocar sintomas graves, como atraso no desenvolvimento, cegueira, hidrocefalia. Dentre os fatores que contribuem para a gravidade das consequências da infecção, está o período da gestação em que o feto foi infectado. Os casos de aborto são mais comuns nas infecções adquiridas no primeiro trimestre de gravidez.

Embora a maioria dos recém-nascidos com toxoplasmose congênita sejam assintomáticos, os sinais da tríade clássica da doença – retinocoroidite, calcificação intracraniana e hidrocefalia – ocorrem em mais de 10% dos indivíduos desse grupo. Há outros casos também em que a doença se manifesta com sinais não específicos de infecção aguda, como convulsões, aumento do baço e fígado, febre, anemia, icterícia, linfadenopatia, entre outros.

Alguns dos recém-nascidos desse grupo podem desenvolver sintomas clínicos e deficiências na vida adulta, afetando, sobretudo, a visão. No Brasil, a principal consequência da infecção nos fetos é a formação de lesões oculares, que corresponde a aproximadamente 80% dos casos clínicos de toxoplasmose gestacional registrados.