A cor da segurança

Consumidores indecisos que procuram por um carro, mas ainda não escolheram a cor, talvez se interessem pelos resultados de um estudo realizado na Nova Zelândia. Uma equipe coordenada pela pesquisadora Sue Furness, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Auckland, concluiu que carros prateados têm menos chance de se envolver em acidentes do que veículos de outras cores — o risco diminui em mais de 50% em relação aos carros brancos, por exemplo. A pesquisa foi publicada em 20 de dezembro de 2003 na revista British Medical Journal .

A maior visibilidade dos carros prateados poderia explicar o menor índice de envolvimento em acidentes verificado na Nova Zelândia

Os pesquisadores coletaram dados de acidentes com registro de feridos hospitalizados e/ou mortos ocorridos entre 1998 e 1999 na região de Auckland — a maior cidade do país, com 370 mil habitantes. Esses dados (referentes a 571 veículos) foram comparados estatisticamente com informações de um grupo de controle formado aleatoriamente por 588 carros não acidentados. A cor branca foi a predominante em ambos os casos, com 145 veículos entre os acidentados e 146 no grupo de controle, e admitida como parâmetro para a comparação das proporções de outras cores.

Variantes que pudessem estar diretamente ligadas à ocorrência do acidente também foram levadas em consideração. “Ajustamos as proporções entre carros acidentados e não acidentados relevando informações como condição climática no momento do acidente, estado de conservação do veículo, características pessoais dos motoristas (idade, sexo, tempo de habilitação, uso de drogas etc) e outros fatores que poderiam influenciar diretamente a ocorrência de acidentes”, explica Sue Furness.

 

A tabela classifica os carros de acordo com um
índice que mede a ocorrência de acidentes em
função de fatores de ajuste. Para os carros brancos, esse índice assumiu o valor 1.

Foram considerados mais ‘perigosos’ os automóveis marrons, pretos e verdes. Segundo os cálculos dos pesquisadores, veículos com essas cores têm cerca de duas vezes mais risco de se envolver em acidente do que os carros brancos; já entre os prateados, o risco era mais de 50% menor. Furness disse à CH On-line que não é possível afirmar a razão da discrepância — “mas é provável que ela esteja relacionada com a visibilidade do veículo”.

 

“Não consideramos diferenças de claridade dentro de cada grupo de cor. Carros verde-claro e verde-escuro foram incluídos no grupo dos verdes, assim como houve diferentes tonalidades no grupo ‘marrom’. Mesmo assim, é razoável admitir que a visibilidade do automóvel interfira na propensão a acidentes”, pondera.

A pesquisadora se arrisca até a defender o aumento da frota dos automóveis prateados como forma de se prevenir acidentes — mas recomenda prudência na interpretação dos resultados. “Este é o primeiro estudo de caso controlado no mundo que investigou a associação entre a cor dos automóveis e os danos causados por batidas. Enquanto estudos semelhantes não forem feitos em outras áreas, devemos tratar os dados com cautela.”

Julio Lobato
Ciência Hoje On-line
10/02/04