A internet tem servido a cada dia mais como importante instrumento de pesquisa, principalmente entre os alunos. Recente estudo da Universidade de Melbourne, na Austrália, avaliou a relação de estudantes de medicina com a internet, procurando entender os impactos desse novo comportamento.
Os resultados mostram que páginas como Google e Wikipédia são as mais acessadas, apesar de serem consideradas as menos confiáveis. No Brasil, especialistas garantem que a situação é similar e sugerem que a solução está em páginas avaliadas pelos próprios profissionais.
O artigo, publicado no British Journal of Educational Technology pelos pesquisadores Terry Judd e Gregory Kennedy, observou a maneira como os estudantes de diferentes períodos acadêmicos utilizam as ferramentas em questão. Esses jovens, classificados por eles como a “Geração Internet”, vêm desenvolvendo uma conduta autodidata, recorrendo à busca de informações na rede mundial de computadores. Um dos problemas apontados está na distância entre essa geração e a anterior, de seus professores, menos acostumados a essa prática.
Os pesquisadores analisadas aproximadamente quatro mil sessões de navegação na internet, coletadas a partir dos computadores da universidade e referentes às consultas feitas por cerca de 840 estudantes.
A conclusão foi de que os periódicos on-line são as fontes menos procuradas, enquanto endereços como Google, Wikipédia e eMedicine ocupam o topo da lista. Ao contrário dos periódicos, que têm conteúdo analisado por pesquisadores de áreas específicas, essas páginas fornecem informações sem qualquer garantia sobre a qualidade do conteúdo.
Prejuízo na formação dos médicos
Judd e Kennedy explicam, em seu artigo, que a preocupação é de que essas fontes generalizadas possam alterar a informação mais especializada, interferindo em futuros diagnósticos e na formação desses estudantes.
“Os estudantes de medicina devem receber orientações sobre como apurar as fontes e selecionar dados, de modo que possam usar as informações disponíveis na internet da melhor forma”, alertam os autores.
Os questionários revelaram que os estudantes têm acesso amplo a várias fontes de pesquisa relacionadas à medicina. No entanto, na análise das sessões de navegação, elas geralmente apareceram como sugestões apontadas pelas páginas de pesquisa mais genéricas. A tese é de que há uma preocupação maior com a praticidade do que com a qualidade e confiabilidade dos recursos.
O caso brasileiro e a solução
No Brasil, a mesma situação tem sido observada nas aulas de medicina. Mauro Schechter, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que o perigo do acesso imediato à informação está na falta de uma análise criteriosa em relação à qualidade. “Assim como as revistas impressas avaliam e publicam as produções médicas mais relevantes, é preciso pensar em adaptações para analisar o que circula na internet”, salienta.
As consequências de se usar a internet como fonte para diagnósticos são observadas inclusive nas próprias consultas, às quais os pacientes já chegam com uma série de informações. Pensando na nova relação entre os profissionais de saúde e pacientes, a Fundação Oswaldo Cruz criou, no fim do ano passado, o Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (Laiss), com o objetivo de indicar páginas eletrônicas que possam servir de referência na área da saúde.
Ao contrário de ferramentas como o MedPedia, uma espécie de Wikipédia restrita a conteúdo médico, a proposta do laboratório é desenvolver mecanismos que ajudem a selecionar informações, sobretudo para portais de saúde.
André Pereira, que coordena o Laiss, explica que essas páginas seriam destinadas àqueles que já são filiados às sociedades médicas, que repassariam os resultados aos pacientes.
Essas ferramentas de avaliação devem analisar aspectos como conteúdo, transparência das fontes, facilidade de navegação dos usuários e clareza na abordagem dos temas. Dessa forma, André Pereira garante que médicos e pacientes serão bem informados.
“O médico do futuro precisa indicar não apenas os remédios ou diagnósticos, mas também páginas de internet a serem consultadas”, reflete.
Larissa Rangel
Ciência Hoje On-line