Produzir indicadores que mensurem, orientem e estimulem políticas em ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Com esse objetivo, pesquisadores de países da América Latina, da Espanha e de Portugal se reuniram no 7º Congresso Ibero-americano de Indicadores de Ciência e Tecnologia, realizado na capital paulista entre os dias 23 e 25 de maio. Organizado pela Rede Ibero-americana de Indicadores de Ciência e Tecnologia (Ricyt, na sigla em espanhol) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o congresso permitiu a troca de experiências entre os países na avaliação de seu desenvolvimento científico e tecnológico e resultou em propostas para melhorar as ações no setor de CT&I.
Há vários anos, os pesquisadores da Ricyt medem o impacto da ciência e tecnologia (C&T) na América Latina e nos países ibéricos com a intenção de promover a cooperação científica e a transferência de tecnologia entre as nações. A rede recebe recursos do governo espanhol e da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI). Segundo o sociólogo da ciência Yurij Casltefranchi, do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cada subgrupo que forma a rede se atém a um indicador específico: recursos humanos, número de patentes, artigos científicos publicados, percepção pública da C&T, etc.
Os resultados das pesquisas sobre percepção pública da C&T, realizadas no Brasil, Espanha, Venezuela e Argentina, foram apresentados no congresso. Castelfranchi, um dos representantes do Brasil nesse grupo, explicou que cada país aplica a própria metodologia nas pesquisas. “Agora nos reunimos para trocar experiências e propor uma metodologia em comum.” A intenção, segundo ele, é que se chegue a cerca de 20 perguntas comuns nos questionários dos países. De acordo com as realidades regionais, cada país acrescentaria outras questões.
O sociólogo reconhece a dificuldade de alinhar as diferentes realidades em uma metodologia padrão. Ele cita o exemplo da Venezuela, que conta com um ministério exclusivo para as causas indígenas e que tem ampla experiência com essa parcela da população. Naquele país, as entrevistas contemplam também as tribos indígenas. “Resta saber como os pesquisadores contextualizaram conceitos como ciência e tecnologia, que são desconhecidos dos povos mais retirados.”
O congresso também ressaltou a importância do investimento em recursos humanos em C&T, por meio da melhoria das condições de infra-estrutura e organização no trabalho. Segundo a psicóloga Rita de Cássia Louzada, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), 21% dos pesquisadores no Brasil já procuraram um psiquiatra e sofrem com a pressão do trabalho. Os palestrantes sugeriram a criação de fóruns para debater as necessidades especiais do cientista em suas atividades.
Novidade brasileira
Grande parte das metodologias usadas para determinar os diversos indicadores de CT&I tem influência européia e norte-americana. Pesquisadores da Unicamp, no entanto, criaram a própria maneira de medir o grau de inovação das empresas. Apresentado em sessão especial durante o congresso, o primeiro Índice Brasileiro de Inovação (IBI) premiou as empresas que mais esforços fizeram e resultados alcançaram na área de inovação. A intenção é estimular a competitividade no setor industrial e incentivar o investimento em pesquisa e desenvolvimento.
Para a premiação, o IBI dividiu as empresas em quatro categorias, de acordo com o nível de tecnologia empregado em suas atividades: alta, média-alta, média e média-baixa. As vencedoras foram, respectivamente, a empresa automotiva Delphi, a do setor químico Silvestre Labs, a produtora de embalagens metálicas Brasilata e a Santista Têxtil. O índice se sustenta em 15 subindicadores baseados em informações da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec) e da Pesquisa Industrial Anual (PIA), ambas realizadas em 2003. Todos os dados foram cedidos voluntariamente pelas empresas. O IBI deve apresentar novos resultados em setembro deste ano e pode se firmar como o melhor indicador para medir a inovação nas empresas no Brasil.
Murilo Alves Pereira
Especial para Ciência Hoje On-line
29/05/2007