Em março de 2003 completam-se 300 anos da morte de Robert Hooke, um dos maiores cientistas do Renascimento. Suas contribuições em diversos ramos da ciência lhe valeram o apelido de Da Vinci britânico, mas não trouxeram reconhecimento. Para mudar esse quadro, o Instituto de Física do Reino Unido acaba de lançar uma campanha para resgatar sua memória. A divulgação de um retrato, que vem suprir a escassez de imagens de Hooke, foi o pontapé inicial do projeto, que prevê ainda a condecoração com uma placa.
O novo retrato de Robert Hooke, elaborado por Rachel Chapman a partir da descrição de amigos – “[ele é] algo curvado, tem o rosto pálido, (…) sua cabeça é grande, seus olhos cheios e salientes (…) e de cor cinza”
A imagem de Hooke é baseada em descrições de dois de seus melhores amigos e ilustrará sua nova biografia, a ser lançada em breve. “É um mistério não haver nenhum retrato de Hooke, ele era um homem notável”, diz Allan Chapman, especialista na vida do cientista e autor da biografia. Uma das hipóteses é que Isaac Newton (1642-1727), rival de Hooke, teria destruído todos os retratos dele após a sua morte.
Hooke nasceu em 1635 na ilha inglesa de Wight e começou sua carreira científica como assistente do químico Robert Boyle (1627-1691). Em 1658, construiu a bomba de ar que permitiu a formulação da Lei de Boyle: em temperatura constante, a pressão de uma dada quantidade de ar varia na medida inversa de seu volume. Por isso, alguns historiadores acreditam que a lei deveria ser atribuída também a Hooke.
A versatilidade do cientista — motivo da comparação com Leonardo da Vinci — era também um defeito. Uma vez descoberto o princípio básico do fenômeno que chamava sua atenção, Hooke perdia o interesse por ele; assim, outros cientistas desenvolviam suas idéias e ficavam com o mérito. Esse foi o caso da panela de pressão e da válvula de segurança, desenvolvidas pelo francês Denis Papin (1647-1712) a partir da bomba de ar elaborada por Hooke. O mesmo ocorreu anos depois com a utilização das molas espirais em relógios, que ele desenvolveu mas não patenteou, o que foi feito pelo astrônomo dinamarquês Christian Huygens (1629-1695).
Hooke criou microscópios e fez importantes observações nesses instrumentos (ao centro, desenho de uma cortiça analisada por ele). Algumas delas estão reunidas no livro Micrographia , cujos textos abrangem da física à fisiologia
Hooke fez diversas outras observações em física e astronomia, entre as quais se destacam a análise da superfície lunar e a explicação sobre a origem das crateras, aceita até hoje. Também fez incursões na microbiologia, com experimentos que vão da elaboração de microscópios ao estudo da anatomia dos insetos e das penas de aves. Além disso, atuou nas artes e arquitetura, medicina, geologia e citologia — foi ele o primeiro a utilizar o termo célula com a mesma aplicação atual.
Gisele Lopes
Ciência Hoje on-line
10/03/03