A televisão me deixou gordo, muito gordo demais

 

A obesidade infantil pode estar mais fortemente relacionada com o tempo gasto em frente à televisão do que com a prática de exercícios ou o tipo de dieta. Isso é o que indica um estudo neozelandês que acompanhou os hábitos de quase mil crianças durante mais de dez anos. Nesse grupo, as mais saudáveis eram aquelas que assistiam à TV durante uma hora por dia ou menos. Curiosamente, a correlação se mostrou mais significativa entre as meninas, principalmente durante a adolescência.

 
A equipe liderada pelo médico Robert Hancox, pesquisador da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, monitorou os hábitos televisivos, índice de massa corporal (IMC) e status sócio-econômico de 976 crianças nascidas entre março de 1972 e abril de 1973, na província de Otago (Dunedin), dos 3 aos 15 anos de idade. Os resultados mostram que, quanto maior o tempo médio passado diante da TV, maior era o IMC das crianças acompanhadas pelo estudo.
 
“Acreditamos que assistir à televisão é um fator de importante contribuição para a obesidade infantil epidêmica atualmente”, concluem os autores no artigo publicado no International Journal of Obesity . Segundo eles, o número médio de horas diante da telinha pode ser um indicador mais preciso da obesidade do que aqueles comumente usados – freqüência de exercícios físicos e hábitos alimentares.
 
É preciso, no entanto, cautela ao interpretar as conclusões do estudo – os próprios autores questionam a importância clínica dos resultados encontrados. Mais do que apontar uma relação simplista do tipo “ver TV engorda”, a pesquisa reflete como esse meio de comunicação afetou o modo de vida infanto-juvenil.
 
“Crianças em muitos países, principalmente as ‘ocidentalizadas’, passam mais tempo assistindo à televisão do que realizando qualquer outra atividade que não seja dormir”, explica Hancox em entrevista à CH On-line . “Ao mesmo tempo, há uma epidemia de obesidade infantil mundial. Parece sensato pensar que ambos os fatos estão interligados.”
 
Não é difícil entender por que uma coisa leva à outra. “Assistir à TV é, naturalmente, uma atividade sedentária e requer um dispêndio muito menor de energia do que qualquer outra”, explica Hancox. A obesidade ocorre, de fato, em conseqüência do pouco dispêndio de energia com atividades físicas, ou dos excessos na alimentação.
 
Os pesquisadores destacam ainda outros fatores que podem ajudar a explicar a correlação observada. “A publicidade neozelandesa tende a promover maus hábitos alimentares”, aponta Hancox. Segundo os autores do estudo, o aumento considerável do número de emissoras e do tempo dedicado à publicidade também podem estar por trás dos maiores índices de obesidade.
 

O grupo de Hancox foi o primeiro a comprovar a associação clinicamente significativa entre a televisão e a obesidade em um estudo de longo prazo. Os cientistas pretendem dar seqüência a essa linha de pesquisa. “Quando houver dados suficientes coletados em idades mais avançadas, outros problemas de saúde desses mesmos indivíduos também poderão ser comparados às horas de televisão”, prevê Hancox.

Juliana Furlaneto
Especial para a CH On-line
17/10/05