Em breve, as pessoas que procurarem as unidades públicas de saúde que realizam diagnóstico de Aids já poderão receber o resultado definitivo na mesma consulta. Um teste desenvolvido no Brasil, em colaboração com um laboratório norte-americano, é capaz de confirmar, em apenas 20 minutos, se um paciente é portador do vírus HIV.
Produzido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o novo teste confirmatório permite detectar separadamente os vírus HIV 1 e 2 de modo mais rápido, preciso e barato que os importados usados atualmente. Além disso, dispensa infraestrutura laboratorial e é simples de aplicar, o que vai permitir sua realização em cidades pequenas e áreas mais remotas do Brasil.
“Com esse teste, poderemos ampliar ainda mais o acesso ao diagnóstico da Aids no país”, avalia Antônio Ferreira, gerente do Programa de Desenvolvimento de Reativos de Bio-Manguinhos, responsável pela produção do novo kit.
Atualmente, quem vai a um Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), serviço do Ministério da Saúde que realiza ações de diagnóstico e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, passa, durante o atendimento, por um teste rápido de triagem para verificar se é portador de HIV.
Mas esses testes, em alguns casos, podem gerar resultados falso-positivos, devido a reações cruzadas. Isso acontece porque os antígenos (partículas reconhecidas pelos anticorpos produzidos pelo sistema imune) usados no teste podem reagir com anticorpos associados a outras doenças, o que induz a um diagnóstico errado.
Por isso, todos os pacientes apontados como soropositivos na triagem têm que realizar um teste confirmatório, que é feito em laboratórios e pode levar dias ou semanas para ficar pronto. “O problema é que de 30% a 40% dessas pessoas não voltam mais ao CTA para pegar a confirmação”, ressalta Ferreira. Consequentemente, elas deixam de ter o resultado conclusivo e o acompanhamento adequado.
“Nosso teste complementa a possibilidade de diagnóstico rápido da Aids”, enfatiza o pesquisador, acrescentando que o kit nacional é o único teste confirmatório de HIV disponível no mercado que apresenta o resultado rapidamente. Além disso, ele é cinco vezes mais barato que os testes laboratoriais importados, que custam cerca de R$ 150.
Tecnologia inovadora
O novo teste foi desenvolvido graças a uma parceria com a empresa norte-americana Chembio, que transferiu para Bio-Manguinhos uma tecnologia que permite a realização de testes de diagnóstico rápido de várias doenças simultaneamente a partir de uma única amostra de fluido corporal. A mesma tecnologia foi usada no desenvolvimento dos kits de triagem já disponíveis na rede pública de saúde.
Para desenvolver o teste rápido confirmatório de HIV 1 e 2, Bio-Manguinhos usou as principais partes das proteínas dos vírus como antígenos para a identificação de eventuais anticorpos presentes nas amostras.
A execução do teste é simples, o que vai facilitar o treinamento dos profissionais de saúde. Basta furar o dedo do paciente, coletar uma gota de sangue (aproximadamente 5 microlitros) e colocá-la em uma abertura localizada em uma espécie de placa de plástico onde é realizado o teste. Em seguida, pinga-se um líquido especial nessa abertura.
A amostra sanguínea migra então para um outro campo da placa, onde há uma faixa com linhas verticais. Nessa faixa estão os antígenos. Após cinco minutos, adiciona-se novamente o líquido especial, dessa vez em outra abertura da placa.
Depois de 15 minutos, é possível ler o resultado a partir das linhas verticais, que apresentam um padrão diferenciado para os vírus HIV 1 e 2. “O kit é sensível e eficaz já a partir do 25º dia de infecção”, destaca Ferreira.
O teste rápido confirmatório para HIV 1 e 2 foi lançado oficialmente em maio, durante o II Simpósio Internacional de Imunobiológicos, realizado no Rio de Janeiro como parte das comemorações pelos 35 anos de Bio-Manguinhos. “Fizemos um acordo inicial para a produção de 150 a 250 mil testes por ano”, diz o pesquisador. Os kits devem começar a ser distribuídos para a rede de saúde no segundo semestre de 2011.
Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line