A busca por nossos ancestrais

A origem e trajetória do homem moderno são foco de várias pesquisas em todo o mundo. Arqueologia e paleontologia têm traçado, com base em seus achados, as possíveis migrações populacionais ocorridas ao longo da história. Porém, com o surgimento da genética, no início do século 20, lançou-se um novo olhar sobre a evolução humana. Por meio do estudo das proteínas que compõem o DNA e, a partir da década de 70, com análises do próprio DNA, a genética aliou-se à arqueologia e à paleontologia na busca pela identidade dos ancestrais das populações do mundo e do próprio homem.

A análise do DNA mitocontdrial, transmitido aos filhos pelo óvulo da mãe, é uma
das ferramentas da genética para estudar a ancestralidade de populações

Nessa parceria, a arqueologia estuda os vestígios materiais de povos antigos, utilizando métodos e técnicas para interpretá-los e relacioná-los a aspectos culturais do povo que os produziu. A paleontologia investiga as formas extintas de vida a partir do material orgânico encontrado. A genética pode usar duas estratégias: resgatar o DNA humano de múmias e ossadas arqueológicas para reconstituir a estrutura genética de populações antigas ou estudar as atuais e comparar os resultados com eventos já datados (por meio de dados paleontológicos e marcação radioativa, por exemplo).

Os estudos genéticos de populações atuais podem ser feitos a partir do cromossomo sexual Y e do DNA mitocondrial (presente nas mitocôndrias), que são herdados de apenas um dos pais e não trocam genes com outros segmentos. O cromossomo Y é transmitido para filhos homens através do espermatozóide e o DNA mitocondrial (DNAmt) é passado para filhos e filhas através do óvulo. Ambos são passados às gerações seguintes em blocos de genes chamados haplótipos, que permanecem inalterados até que ocorra uma mutação, identificada pela comparação dos DNAs das populações atuais com o primeiro DNA humano seqüenciado (1981).

As mutações ocorridas durante a evolução humana geraram variações dos haplótipos chamadas polimorfismos, que são relativamente comuns (freqüência populacional igual ou maior que 1%) e servem como marcadores de linhagens evolutivas. As combinações específicas das variações ao longo da seqüência de DNA são classificadas em haplogrupos, que estão relacionados à origem geográfica das variações.

Assim, para pesquisar a ancestralidade de populações atuais, pode-se avaliar sua variabilidade genética e compará-la com os haplogrupos identificados, baseando-se também em conhecimentos históricos e dados arqueológicos e paleontológicos. Segundo o arqueólogo André Prous, do Museu de História Natural da Universidade Federal de Minas Gerais, “arqueologia, paleontologia e genética formam um conjunto, onde deve haver um diálogo permanente.”

Thaís Fernandes
Ciência Hoje on-line
05/01/01