A ciência das coisas banais

Você alguma vez pensou na melhor maneira de cozinhar um ovo de acordo com as leis de termodinâmica? E em um bom modo de agarrar uma bola em função do ângulo de curvatura de inclinação da trajetória? Já refletiu sobre como empregar a física para melhorar o desempenho sexual do ponto de vista bioquímico e biofísico? Bem, o físico britânico Len Fisher já. Em seu livro A ciência no cotidiano ele nos mostra de forma divertida e acessível como as leis da ciência tornam possíveis pequenos atos do dia-a-dia.

O objetivo principal de Fisher, pesquisador do Departamento de Física da Universidade de Bristol, Inglaterra, é fazer o leitor aproveitar a ciência nas atividades diárias e aproximá-lo do método científico ‐ que, garante ele, pode ser aplicado em qualquer situação do cotidiano. O autor encontrou opositores à sua empreitada na comunidade científica. “Alguns dos meus colegas acham que, ao relatar experiências sobre uma coisa tão corriqueira como encharcar um biscoito ou uma rosquinha em chá ou café, estou correndo o risco de banalizar a ciência.”

No entanto, Fisher esclarece seu desejo de explicar o que fazem os cientistas e como e por que desenvolvem suas pesquisas. “As pessoas mostram uma curiosidade natural pelo trabalho que eles fazem e pela motivação que os leva a executá-lo, mas também têm medo de perguntar sobre os detalhes”, lamenta. “O temor é tamanho que, ao descobrirem que sou cientista, os convidados de uma festa em geral voltam-se para minha mulher e perguntam a ela o que eu faço, em vez de perguntarem diretamente para mim.”

Fisher ensina a melhor maneira de se molhar um biscoito no café. Em vez de mergulhar da forma convencional (esq.), o ideal é fazer como mostra a figura da direita: assim, o líquido demora quatro vezes mais para ser absorvido na espessura do biscoito.

A obra oferece, a partir de casos reais, respostas científicas para questões bem familiares. A leitura foi organizada de modo que o leitor possa escolher se quer ler cada capítulo isoladamente ou seqüencialmente, como uma história. A obra ensina, por exemplo, um método prático para se estimar o valor total da conta do supermercado e explica como é formada a espuma no banho.

Há inúmeros casos fascinantes, anedotas engraçadas e curiosidades acrescentados a cada capítulo em forma de notas no final do livro. Há ainda inúmeras ilustrações e esquemas esclarecedores, alem de indicações de leitura para quem quiser se aprofundar em alguns dos temas tratados.

“A ciência pode acrescentar muito às tarefas do dia-a-dia, mas também ganhou bastante com o estudo desses atos corriqueiros”, comenta Fisher. “Se acabarmos adotando uma monocultura científica, com todos trabalhando nas mesmas e poucas questões (aquelas consideradas importantes por políticos, homens de negócio ou tecnocratas), o resultado será ciência nenhuma.”

A leitura de A ciência no cotidiano funciona como uma conversa com autor em estilo simples e direto. “Como as histórias desse livro mostram, há sempre a possibilidade de que uma resposta ‐ até para a pergunta mais trivial ‐ ajude a produzir uma nova percepção da natureza do mundo no qual vivemos”, afirma Fisher. “Os cientistas se dedicam à produção desses momentos.”

A ciência no cotidiano – como aproveitar
a ciência nas atividades do dia-a-dia

Len Fisher (tradução: Helena Londres)
Rio de Janeiro, 2004, Jorge Zahar Editor
Fone: (21)2240-0226
208 páginas – R$32,50

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
15/11/04