Motivada pelo espírito de um novo ano, a revista Nature (30/12/14) fez uma lista na linha ‘O que esperar dos cientistas em 2015’. Listas assim são sempre subjetivas – e a única certeza das futurologias é que elas têm grande probabilidade de estarem erradas. Feito o alerta, vamos a um resumo dos tópicos destacados pela publicação.
O primeiro é a volta, com energia total (13 trilhões de elétrons-volt), do acelerador LHC (Grande Colisor de Hádrons, na tradução mais comum), no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Suíça). Passada toda a balbúrdia em torno da descoberta lá da ‘partícula de deus’ (bóson de Higgs), a retomada das colisões de partículas, depois de dois anos de interrupção para manutenção, traz a esperança de um novo zoo de fragmentos de matéria. Principalmente, das chamadas partículas supersimétricas, que indicariam um caminho para a unificação das duas colunas da física contemporânea: a teoria da relatividade geral e a mecânica quântica. A ver.
Ainda na área de física, a revista diz que há boa chance de se detectarem as ondas gravitacionais – previstas pela relatividade geral – em um laboratório, agora aperfeiçoado e mais sensível, montado no sul dos Estados Unidos, o Ligo, que vem tentando a façanha há 20 anos [Em tempo: vale lembrar que, ano passado, o experimento Bicep2 anunciou tal descoberta, mas teve que se retratar].
A revista também destaca os entendimentos entre os Estados Unidos e a China sobre a redução de emissão dos gases do efeito estufa, e como isso poderá influenciar um novo acordo do clima que poderá sair de uma reunião da Organização das Nações Unidas em dezembro deste ano.
Quanto ao ebola, as esperanças recaem sobre o controle da epidemia e a obtenção de uma vacina, droga ou tratamento com anticorpos – este último seria a alternativa mais rápida de implementar. Ainda na área de medicina, este ano deverá trazer novas drogas que irão baixar o colesterol ruim.
Na paleoantropologia, espera-se a obtenção do genoma completo do chamado homem de Sima de los Huesos (gruta na Espanha), com 400 mil anos de idade e que poderá responder a questões sobre possíveis cruzamentos entre nós (H. sapiens), neandertais e outro ‘primo’, o hominídeo de Denisova – referência à caverna na Sibéria onde o fóssil foi encontrado.
Sondas da Nasa (agência espacial dos EUA) – respectivamente, Dawn e New Horizons – prometem visitar o protoplaneta Ceres e o planeta-anão Plutão. Novos (e moderníssimos) laboratórios devem entrar em funcionamento tanto no Reino Unido – Instituto Francis Crick e Instituto Nacional do Grafeno, este último a semente para uma ‘Cidade do Grafeno’ – quanto nos EUA – o Instituto Allen para a Ciência Celular (o nome é referência a Paul Allen, fundador da Microsoft que doou para a empreitada cerca de 100 milhões de dólares). Os investimentos nos três institutos somam invejosos 4,5 bilhões de reais, com o Crick ficando com quase 90% disso.
[Adendo: outra importante revista científica, a Science (19/12/14), encabeçou seu balanço anual sobre os fatos mais importantes da ciência no ano passado. Em primeiro lugar, ficou o pouso (ainda que meio desajeitado) da sonda Philae, lançada pela nave Rosetta, no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. A Rosetta, neste momento, colhe dados sobre a composição do cometa, para tentar responder à importantíssima questão: a vida na Terra foi trazida por esses corpos espaciais?]
E, finalmente, a lista da Nature se finda com o anúncio de três novos e sofisticados navios – Sikuliaq e Neil Armstrong, dos Estados Unidos, e Sonne [II], da Alemanha – para explorar os oceanos. E, refletindo a essência da frase atribuída ao poeta romano Públio Terêncio (c. 150 a.C.) – “Tudo que é humano não me é estranho” –, o Japão deverá retomar sua caça ‘científica’ às baleias na Antártida.
Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ