A graça da ciência

Sidney Harris não descobriu a cura para qualquer doença, nunca ganhou o Nobel e sequer trabalha em um laboratório ou universidade, mas seu trabalho tem grande contribuição para a ciência. Esse cartunista norte-americano é conhecido por seus desenhos que abordam os dilemas e paradigmas da ciência de forma descontraída e irreverente. Recém-lançado no Brasil pela Editora Unesp, o livro A ciência ri – o melhor de Sidney Harris apresenta mais de duzentos de seus cartuns traduzidos para o português.

Esta é a primeira vez que Harris tem sua obra reunida em livro no país. Com 256 páginas, a coletânea reúne alguns dos desenhos em preto e branco publicados ao longo de sua vasta carreira e que fizeram dele o primeiro cartunista de ciência norte-americano.

Harris não tem qualquer formação específica em ciências e começou a fazer cartuns sobre o tema de forma quase casual. “Por volta de 1970, cruzei com o endereço da American Scientist e aproveitei a oportunidade para mandar alguns cartuns”, contou ele à revista Ciência Hoje em entrevista publicada em 1997. “A revista mostrou interesse em ver mais material. Embora pagassem pouco, minha motivação para desenhar cartuns com temas científicos era mais a de um cartunista free-lancer do que a de alguém com um forte interesse em ciência.”

Desde então, Harris se tornou uma referência no humor científico e seus trabalhos foram publicados em revistas científicas de renome como Science, American Scientist e Discover, além de periódicos como The New Yorker, Playboy ou The Wall Street Journal. Clonagem, evolução, matemática, ética, geologia, lingüística religião. Nada escapa a seu olhar crítico e muitas vezes satírico sobre as práticas científicas.

“Não tenho absolutamente qualquer animosidade com respeito a cientistas e não sou motivado por qualquer sentimento de ser crítico com relação a eles”, disse ele à Ciência Hoje. “De fato, sou um fã de ciência e fico constantemente impressionado pelas grandes conquistas que foram e continuam a ser feitas.” Harris disse ainda ter uma relação cordial com os pesquisadores. “O retorno que recebo de cientistas é quase sempre simpático e amistoso, além de lucrativo, já que meus desenhos são freqüentemente reimpressos em livros-texto.”

Obra impressa
Seus inúmeros trabalhos foram reunidos em doze volumes, entre eles From ads to cloning labs [De propagandas a laboratórios de clonagem], You want proof – I’ll give you proof [Você quer a prova – eu lhe darei a prova], Stress test [Teste de estresse], All ends up [Tudo termina] e What’s so funny about science [O que há de tão engraçado sobre a ciência], além de antologias como Chalk up another one: the best of Sidney Harris [Destaque outra pessoa: o melhor de Sidney Harris], publicada em 1992. Na década de 1980, Harris expôs alguns de seus trabalhos em museus norte-americanos.

Ao retratar os cientistas em situações corriqueiras e inesperadas, Harris consegue desmistificar a ciência de tal forma que, mesmo para leigos, é impossível folhear a coletânea e não se surpreender com o quanto a ciência pode ser divertida.   

Clique aqui para ler a entrevista de Sidney Harris
publicada na CH 131, em setembro de 1997.

A ciência ri – o melhor de Sidney Harris
Sidney Harris
(trad.: Jesus de Paula Assis)
São Paulo, 2007, Editora Unesp
Tel.: (11) 3242-7171
256 páginas – R$38,00 

Rachel Rimas
Ciência Hoje On-line
31/10/2007