A história da Amazônia revista

A Amazônia sempre foi pouco povoada e marcada por uma pequena densidade demográfica, certo? Errado. Este é um dos muitos mitos sobre a ocupação da região que por muito tempo foram difundidos entre leigos e até entre pesquisadores. Agora, um livro recém-lançado procura desfazer alguns dos equívocos sobre a história das sociedades amazônicas. Arqueologia da Amazônia , de Eduardo Góes Neves, resume o que se sabe hoje sobre o passado desses povos e apresenta um panorama das pesquisas atuais na região.

Góes Neves é professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. Em Arqueologia da Amazônia , ele compara as crenças dos arqueólogos sobre as comunidades indígenas antigas no início do século 20 – quando começaram as primeiras investigações em trabalho de campo na região – com as descobertas mais recentes sobre a ocupação dessa área.

Uma delas mostrou, por exemplo, que a Amazônia tinha uma alta densidade demográfica no período pré-colonial, principalmente até o século 15. Nos registros de exploradores dos séculos 16 e 17 há menções a grandes comunidades indígenas. Isso muda após o século 18, quando os europeus começam a colonizar o território. A guerra, a escravidão e as doenças trazidas por eles contribuem para a decadência das tribos nativas.

O autor expõe como evoluiu a vida econômica, artística e social dos antigos povos da região amazônica. Os diferentes grupos tinham formas de sobrevivência distintas: havia os nômades, os sedentários e os que praticavam a agricultura de coivara, que prejudicava o solo até o ponto em que ele se tornava infértil e a comunidade era obrigada a procurar outro lugar.

Para o autor, os nativos de dois mil anos atrás são ancestrais dos indígenas atuais e, por isso, a arqueologia da Amazônia pode ser considerada uma “história antiga” desses povos. Muitos estudiosos acreditam que as sociedades amazônicas se tornariam estados centralizados se o colonizador europeu não tivesse interferido, mas Góes Neves refuta essa idéia – para ele, a economia dessas comunidades era baseada no núcleo familiar de produção, o que não favorece o poder central ou a estabilidade política a longo prazo.

O livro traz ainda para o público leigo uma antiga controvérsia entre os arqueólogos sobre a origem das cerâmicas encontradas na bacia amazônica. Acreditou-se durante muito tempo que havia um centro inicial de produção de cerâmicas, localizado no noroeste da América do Sul, onde foram encontradas peças com mais de quatro mil anos. No entanto, a descoberta de objetos tão antigos quanto esses nos sítios de Pedra Pintada e Taperinha, no estado do Amazonas, põe em xeque essa hipótese.

Góes Neves defende que conhecer a história das sociedades amazônicas pode ajudar a encontrar maneiras de utilizar de forma mais sustentável e responsável os recursos da região. É isso que Arqueologia da Amazônia propõe, em linguagem simples e texto conciso acompanhado de sugestões de leitura complementar, que deve chamar a atenção tanto de especialistas e quanto de leigos interessados pelo tema. 

Arqueologia da Amazônia
Eduardo Góes Neves
Coleção Descobrindo o Brasil
Rio de Janeiro, 2006, Jorge Zahar Editor
Tel.: (21) 2240-0226
86 páginas – R$ 22,00

Franciane Lovati
Ciência Hoje On-line
05/07/2006