A ‘lista de desejos’ de Robert Boyle

Se vivesse nos dias de hoje, o filósofo natural irlandês Robert Boyle (1627-1691) talvez pudesse ser visto usando algum aplicativo de geolocalização em seu iPhone enquanto aguarda a chamada de um voo na sala de embarque do aeroporto de Dublin.

As maravilhas tecnológicas do século 21 decerto encantariam Boyle, considerado um dos fundadores da química moderna – os estudantes de segundo grau o conhecem pela lei que leva o seu nome, segundo a qual o volume de um gás varia com o inverso da sua pressão.

E não é por acaso: voar como os pássaros e determinar longitudes de forma precisa – algo feito de forma instantânea com a tecnologia de GPS (sistema de posicionamento global), embutida em muitos smartphones de hoje – estavam entre os sonhos do químico e físico irlandês.

Hoje podemos determinar longitudes de forma precisa e instantânea com a tecnologia de GPS

Itens como esses foram incluídos por Boyle em uma ‘lista de desejos’ que ele elaborou há mais de 300 anos, apresentada recentemente no blogue da Royal Society. A enumeração reúne projetos científicos que o filósofo natural – como eram chamados os cientistas naquela época – esperava ver realizados no futuro.

É interessante notar que, entre os 24 itens da lista, estão objetivos que, três séculos depois, permanecem entre os anseios da humanidade, como o prolongamento da vida.

Esse desejo, é verdade, se concretizou em parte desde então. Alguém que nascesse na Inglaterra do século 17 não tinha a expectativa de viver além dos 40 anos [PDF]; hoje, a esperança de vida no Reino Unido é de 79 anos – praticamente o dobro do que era na época de Boyle.

Desejos possíveis e impossíveis

Outros desejos do irlandês refletem avanços da ciência e tecnologia desde então, como a cura de doenças por meio de transplantes e drogas para diminuir a dor. A própria “arte de voar” – desejo de número 3 da lista de Boyle – se tornou possível com aviões, asas-deltas e outros equipamentos.

Manuscrito de Boyle
O manuscrito de Boyle com as prioridades da agenda científica para o futuro está em exposição em Londres até novembro de 2010 (foto: Royal Society)

A transmutação de metais – velho sonho dos alquimistas que não poderia ficar de fora da lista de Boyle – também está ao alcance da ciência de hoje. O advento dos aceleradores de partículas permitiu levar adiante as possibilidades abertas com os trabalhos pioneiros do físico britânico Ernest Rutherford (1871-1937) no início do século 20.

Mas alguns dos itens da agenda científica de Robert Boyle para os séculos por vir permanecem na esfera da ficção. Recuperar a juventude ainda é um desejo inalcançável, apesar dos avanços da medicina e da cirurgia plástica. O fim da necessidade de sono e a capacidade de atingir dimensões gigantescas também soam como perspectivas irreais.

A lista completa de Boyle pode ser consultada no blogue da Royal Society – a mais antiga academia de ciências do mundo, criada em 1660 (Boyle foi um de seus fundadores). O leitor que estiver em Londres pode conferir de perto o manuscrito do irlandês, que está no acervo da exposição Royal Society: 350 anos de ciência, em cartaz até 18 de novembro.

 

Debora Antunes
Ciência Hoje On-line