A mola e a música

Tente perguntar em sua sala de aula: “Quem aqui gosta de música? Quem aqui toca um instrumento?”. Talvez você se surpreenda com a réplica: pode ser que muito mais alunos do que se presumia respondam positivamente.

Foi essa surpresa que Wilson Krummenauer, professor de física do Colégio Luterano Arthur Konrath (Estância Velha, RS), teve quando abordou seus alunos. De uma turma de 35, boa parte tinha, ao menos, alguma noção musical e sabia distinguir um som grave de outro agudo.

Tente perguntar em sua sala de aula: “Quem aqui gosta de música? Quem aqui toca um instrumento?”

E, afinal, qual seria a validade para um professor de física que um estudante saiba fazer esse tipo de distinção? Resposta: uma aula sobre acústica mais interessante.

“Acredito na teoria da aprendizagem significativa,que preconiza trabalhar em sala de aula com aquilo que o aluno já sabe.O professor tem a obrigação de averiguar o conhecimento prévio doestudante e construir, a partir desse conhecimento, uma proposta detrabalho”, diz Wilson, que se formou na Faculdade da Serra Gaúcha (FSG)e tem mestrado em ensino de física pela Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS).

A aula

Com a ideia de aproveitar o que os alunos já sabiam fazer, Wilson usou diversos instrumentos na escola. A propósito: o educador não sabe tocar instrumento algum. “Até aprendi com os alunos”, conta.

Com música, ensinaram-se vários conceitos de acústica, como apropagação das ondas ao longo de cordas e no ar, a aferição dafrequência dos instrumentos e a noção de timbre

Os estudantes levaram flauta, violão, violino e guitarra para a sala de aula. Os integrantesdo coral do colégio também foram solicitados.

Assim, com música, ensinaram-se vários conceitos de acústica, como a propagação das ondas ao longo de cordas e no ar, a aferição da frequência dos instrumentos ou a noção de timbre.

Os resultados foram apresentados em um artigo publicado na revista Física na Escola [PDF]. O texto, escrito por Wilson e outros dois físicos da UFRGS – Terrimar Pasqualleto e Sayonara da Costa –, diz:

Estudar a física presente no funcionamento de um instrumento específico é um assunto tão vasto quanto a diversidade de instrumentos. Cada instrumento se apresenta como uma fonte de abordagens físicas diferindo desde a maneira como se gera o som até o processo para emitir as diferentes notas musicais.

 

O começo

Antes da prática musical, no entanto, os alunos precisavam saber o que estava por vir. Como manter o espírito lúdico quando se apresentam conceitos mais teóricos?

Com um brinquedo comum da infância de muitos: a mola maluca. Um casual dispositivo que representa – até mesmo na forma – uma onda. Com ela, Wilson conseguiu tornar familiares a seus alunos noções como comprimento de onda, velocidade de propagação e período.

A mola maluca permitiu familiarizar os alunos com noções como comprimento de onda e velocidade de propagação

“No fim da experiência, fizemos um questionário e vimos que 88% dos alunos viram de forma muito positiva a metodologia. Na verdade, eles se sentiram valorizados por termos ensinado por meio de um conhecimento prévio deles”, afirma Wilson.

“E o mais interessante é que foi possível dar essas aulas sem abrir mão de ensinar teorias e conceitos, inclusive matemáticos, cobrados no currículo escolar”.

Dito isso, resta perguntar a você, professor: quantos alunos seus tocam algum instrumento?

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line