Na comemoração dos 100 anos da primeira Revolução Russa e do centenário da publicação de A ética protestante e o “espírito” do capitalismo , um dos mais importantes estudos do sociólogo alemão Max Weber, o público brasileiro é que foi agraciado. O livro Estudos Políticos ‐ Rússia 1905 e 1917 , publicado recentemente, traz três textos de Weber, até então inéditos no Brasil, nos quais o sociólogo faz uma análise do panorama político que levou às revoluções russas.
Max Weber (1864-1920) é considerado um dos fundadores da sociologia. Dotado de um incomum senso da realidade política que o cercava, analisou a relação entre o desenvolvimento do capitalismo e as religiões protestantes, em especial a calvinista. Foi também o primeiro a atentar para o papel da burocracia nos estados modernos. Segundo Weber, a mesma racionalização progressiva que libertou o homem da ignorância e das superstições tendia a escravizá-lo em rígidas estruturas institucionais.
Atrasada socio-economicamente, a Rússia revolucionária de 1905 ainda reunia características tipicamente feudais, apesar de já ter iniciado sua industrialização. As crises agrárias e os gastos inconseqüentes do governo provocaram uma série de revoltas liberalistas por todo o país. Pressionado, o czar se viu obrigado a tomar medidas liberais, como a criação de um parlamento que controlaria o poder legislativo (a Duma).
Weber estudou com atenção esse processo, pois acreditava na Rússia como a maior possibilidade de criação de uma alternativa ao processo de racionalização. Considerava também esse império a maior ameaça potencial à Alemanha. Armado de teorias liberais e de um nacionalismo ferrenho, o sociólogo analisou a revolução em dois artigos de 1906, que agora saem no Brasil. Weber se revelava descrente em relação ao movimento liberal russo e às possíveis mudanças na política interna do país. A única alteração, segundo ele, seria a passagem do poder da coroa aos burocratas, racionalizando a autocracia.
Decepcionado, Weber só voltou a se interessar pelo processo político russo durante a revolução de março 1917, que retirou o czar do poder e estabeleceu um governo provisório de caráter liberal. Em abril daquele ano, ele escreveu seu terceiro artigo sobre a Revolução Russa. O sociólogo acreditava que o movimento só obtivera sucesso por ter contado com o apoio da burguesia, diferentemente do que ocorrera em 1905. Weber, que não acreditava no operariado russo como classe revolucionária, desconfiava muito de suas intenções e capacidade de governo. Para ele, o que se passou foi a simples eliminação de um czar ineficiente. Ele viu no governo provisório, que agregava elementos de diversas classes sociais, uma farsa que seria desfeita pela burguesia assim que lhe fosse conveniente.
Ao analisar o processo político russo de um ponto de vista técnico e subestimar elementos importantes como a tradição, a ideologia e a psicologia das massas, Weber acabou fazendo previsões errôneas a respeito do futuro do país. Entretanto, os artigos de Estudos Políticos descrevem com exatidão vários aspectos da conjuntura política da época e oferecem uma visão singular do processo revolucionário russo. A edição brasileira traz também um artigo introdutório de Maurício Tragtenberg (1929-1998), um dos maiores conhecedores de Weber no Brasil, que ajuda a compreender melhor as idéias do alemão e a inserir esses textos dentro de sua vasta obra.
Estudos políticos ‐ Rússia 1905 e 1917
Max Weber (Tradução e apresentação: Maurício Tragtenberg)
Rio de Janeiro, 2004, Azougue Editorial
(21) 2232-6374
216 páginas – R$ 38,00
Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line
29/04/05
Um clássico reeditado
A ética protestante e o “espírito” do capitalismo foi publicada pela primeira vez durante 1904 e 1905 numa revista alemã e reeditado pelo próprio Weber em 1920. Na época, a Alemanha, berço de ideologias protestantes, passava por um rápido crescimento industrial. O texto de Weber analisa essa relação intrínseca entre a religiosidade protestante e o sucesso do capitalismo. Uma nova tradução da obra, feita diretamente do original em alemão, foi publicada recentemente no Brasil. Ela reúne as duas versões em um único texto, destacando as observações acrescentadas pelo autor em 1920.
A ética protestante e o “espírito” do capitalismo
Max Weber (trad.: José Marcos Mariani de Macedo)
São Paulo, Companhia das Letras, 2004
(11) 3707-3500
344 páginas ‐ R$39,50