Para quem gosta de arte, a pincelada acima talvez não deixe dúvida. É um traço de Van Gogh. A graça é descobrir: 1) De que quadro é essa pincelada? 2) De onde veio essa imagem tão aproximada – e com tanta qualidade – de uma obra do pintor holandês?
Bom, para começar, acredite: a tinta da imagem que abre este texto colore a Lua de um dos quadros mais famosos de Van Gogh: A noite estrelada. Como conseguimos ficar tão próximos de um detalhe do quadro? Por meio do Google Art Project, nova ferramenta do Google lançada no começo de fevereiro.
A ideia é muito parecida com a do Google Street View, aquela ferramenta-mapa que permite andar, em primeira pessoa e 360 graus, pelas ruas de centenas de cidades no mundo (inclusive algumas das principais capitais do Brasil, como Rio de Janeiro e Belo Horizonte).
Pois bem. A turma que trabalha na empresa resolveu propor uma parceria a 17 museus ao redor do mundo. O objetivo: tal qual o do Street View, possibilitar um passeio virtual impressionante pelo interior das instituições – do renomado Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova Iorque (EUA), ao não tão celebrado (mas igualmente importante) Thyssen-Bornemisza, em Madri (Espanha).
Assista ao vídeo que mostra como
foram realizadas as fotos para o Google Art Project
O diretor da Escola de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Ivan Coelho de Sá, experimentou a ferramenta e contou a experiência à CH On-line.
“Além de ser extremamente atraente em termos de detalhes e de imagem, supera totalmente outros recursos visuais de apoio às aulas. Os estudantes podem acessar o site e fazer, virtualmente, todo o percurso do museu para analisar espaços, textos, etiquetas, cores, iluminação e demais suportes expográficos”, relatou por e-mail.
Além da possibilidade de passear pelos museus – o que por si só já é formidável –, temos à disposição mais de 1.000 obras. Entre os 700 artistas que figuram no Art Project, está Van Gogh, um dos favoritos da redação. Além dele, passeamos por quadros de Caravaggio, Gauguin, Botticelli, Hopper, entre tantos outros.
Assista ao vídeo-tutorial (em inglês)
do Google Art Project
Todas as obras permitem um zoom de aproximação gigantesca. Como a qualidade da imagem é excelente (inacreditáveis 7 bilhões de pixels), conseguimos ver, com nitidez, detalhes como o tipo de pincelada de cada pintor ou, mesmo, rachaduras nos quadros.
“O grau de aproximação das obras permite ver com exatidão cores, desenho e até mesmo texturas e empastamentos da pintura a óleo”, afirma Ivan Coelho de Sá.
O diretor da Unirio complementa:
“De todas essas qualidades do Google Art Project, sem dúvidanenhuma, a mais importante para os alunos do curso de museologia e paraa realidade brasileira é que se trata de um veículo de baixo custo edemocrático e, por isso mesmo, de grande alcance social, pois permite oacesso de todos, inclusive daqueles que não têm ou não tiveram aoportunidade de conhecer os museus europeus e norte-americanos.”
O Art Project é um projeto em beta, ou seja, ele está em permanente desenvolvimento. Na página virtual, algumas salas de museus importantes (como o Reina Sofia, em Madri) não estão ‘abertas ao público’. Não vemos, por exemplo, obras fundamentais como Guernica, de Picasso, que está em um dos andares não acessíveis do museu espanhol.
Segundo o Google, novos museus participarão da empreitada. Algumas salas fechadas das instituições poderão também ser abertas. De todo modo, não há muito do que reclamar do projeto, ainda mais quando estamos com um Van Gogh a um palmo do nariz.
A propósito, eis o quadro ‘completo’.
Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line