O futebol é visto por muitos como um esporte que depende da sorte e da habilidade dos jogadores. Mas nem sempre é assim. Os resultados também dependem de circunstâncias externas e decisões políticas que fazem com que, ao se iniciar um jogo, as probabilidades de que um time ganhe sejam maiores do que as do outro, independentemente dos jogadores.
Cartazes das Copas do Mundo realizadas entre 1966 e 1990
Há um dado que faz pensar: dos nove campeonatos mundiais de futebol disputados na Europa, os europeus ganharam oito; dos sete campeonatos disputados nas Américas, os latino-americanos ganharam todos. O único país que conseguiu ganhar uma copa fora do seu continente foi o Brasil, em 1958, na Suécia. Por quê? Em que circunstâncias o time da casa tem vantagem? Como testar matematicamente as diferentes explicações para esta vantagem?
Estatisticamente, o país-sede tem uma grande vantagem diante dos outros competidores ao título de uma Copa do Mundo. Alemanha, Inglaterra, França, Argentina e Uruguai ganharam em casa. Pode-se dizer que, de um modo geral, o melhor desempenho das equipes costuma acontecer nos torneios sediados em seu território. A exceção a essa regra fica por conta do Brasil, que foi vice-campeão em casa, em 1950, e ganhou quatro copas fora de casa.
Cartazes das Copas do Mundo realizadas entre 1930 e 1962
Os trechos acima foram adaptados de um artigo publicado por Ciência Hoje às vésperas do Mundial de 1990, disputado na Itália. O texto, de autoria de Glaucio Ary Dillon Soares, da Universidade da Flórida (EUA), com colaboração de Mike Parrish, procurava associar estatisticamente a probabilidade de uma seleção ganhar uma partida e o fato de estar jogando em seu próprio país ou continente.
O pesquisador chegou a resultados conclusivos confirmados nos últimos doze anos. De fato, desde a publicação do artigo em questão, três Copas do Mundo foram disputadas — e vencidas por equipes dos continentes em que foram realizadas. Na Itália, em 1990, ganhou a Alemanha, uma equipe européia; nos Estados Unidos, em 1994, o Brasil, país americano, sagrou-se tetracampeão; a França, por fim, conquistou o Mundial que sediou em 1998.
A Copa do Mundo de 2002, pela primeira vez sediada na Ásia (Coréia do Sul e Japão), também confirma a tendência. Pela primeira vez em sua história, os países anfitriões venceram uma partida em um Mundial e passaram para a segunda fase do torneio. Além disso, a Coréia do Sul foi responsável pela primeira participação de uma seleção asiática nas semi-finais.
À luz desses fatos, torna-se pertinente reler o artigo de Dillon Soares no âmbito do Especial Ciência e Futebol publicado pela CH On-line. Embora apresente dados relativos às Copas realizadas apenas até 1986, o texto apontava uma tendência que continua a se verificar desde então. Ao fim do artigo, o leitor há de concordar com a conclusão do pesquisador. Segundo ele, é preciso rever o provérbio segundo o qual ’futebol se ganha é no campo’. “Talvez fosse mais acertado dizer: no futebol, quem ganha é o campo!”
Clique aqui para ler A vantagem do time da casa, artigo
de Glaucio Ary Dillon Soares publicado em maio de
1990 (CH 63). O texto está disponível em formato RTF
(pode ser aberto no Microsoft Word – arquivo de 60 Kb)
Fernanda Marques
Ciência Hoje on-line
19/06/02