Academia de ciências de Springfield

Se você está familiarizado com o desenho animado norte-americano Os Simpsons, sabe que, com raras exceções, os habitantes da cidade de Springfield estão longe de serem professores de ciência competentes. Essa afirmação é especialmente verdadeira para Homer Jay Simpson, o patriarca da família, cuja inteligência é prejudicada por diversos fatores, como a presença de um giz de cera em seu cérebro.

Mas tudo isso pode mudar graças ao livro Os Simpsons e a ciência, do físico e divulgador científico norte-americano Paul Halpern. Na obra, Halpern usa variados episódios da série como ponto de partida para falar sobre biologia, física, robótica e o universo. Os 26 capítulos exploram temas como mutação, termodinâmica, viagem no tempo e a existência de vida fora da Terra, entre outros assuntos.

Halpern seleciona alguns episódios clássicos da série, no ar há mais de 20 anos. ‘O peixe de três olhos’, por exemplo, conta a saga de Blinky, o animal do título, cujo surgimento em Springfield é usado no livro para comentar poluição, fraude científica e os riscos ligados à energia nuclear. ‘A árvore da casa dos horrores’, um episódio especial dedicado ao Dia das Bruxas, também ocupa posição de destaque na obra.

Para o autor, Os Simpsons oferece condições ideais para a promoção da educação científica. A ausência de claque, alega ele, permitiria o desenvolvimento do senso crítico do telespectador, que é obrigado a ponderar entre o sarcasmo, as opiniões conflitantes e, ocasionalmente, as representações enganosas para reconhecer a verdade.

Além disso, o desenho é recheado de fatos científicos – ocultos, normalmente (mas nem sempre), nas tramas absurdas e hilárias dos habitantes de Springfield. A presença de vários temas científicos na animação é sem dúvida fruto do fato de muitos de seus redatores possuírem pós-graduação em física, química e outras áreas do conhecimento.

Acessível, mas pouco profundo
Os Simpsons e a ciência é escrito em uma linguagem simples e acessível. Algumas piadas são bem traduzidas do inglês, mas perdem seu sentido na língua portuguesa. Voltado para iniciantes nas ciências, o livro, em geral, não se aprofunda muito em cada tema, oferecendo um painel histórico e amplo sobre uma determinada questão.

Apesar da maneira leve como aborda alguns pontos, em certos casos Halpern não consegue explicar claramente um conceito e é possível que o leitor tenha que reler o trecho mais atentamente para compreendê-lo. As leis da termodinâmica, por exemplo, mencionadas na análise do episódio em que Lisa cria uma máquina de moto-perpétuo, são explicadas de forma pouco clara para o leitor que não conhecer esse conceito.

Isso não compromete o livro, que continua sendo uma interessante maneira de aprender um pouco mais sobre ciência ou, simplesmente, de descobrir quantos fatos científicos se escondem por trás das aventuras de Homer e companhia.

Os Simpsons e a ciência – o que eles podem nos
ensinar sobre física, robótica, vida e universo
Paul Halpern (trad.: Samuel Dirceu)
São Paulo, 2008, Editora Novo Conceito
256 páginas – R$ 39,90
Tel.: (11) 5102-4770/4834

Fred Furtado
Especial para a CH On-line
04/11/2008