Ação e reação

A atividade econômica pode ser afetada tanto por eventos inesperados – por exemplo, a alta no preço do petróleo ou a definição de uma nova taxa de juros pelos bancos centrais –, quanto por mudanças programadas nas políticas monetárias e fiscais de um país. Mas de que forma esses fatores influenciam indicadores econômicos como os índices de inflação e desemprego, os preços e os investimentos?

O Prêmio Nobel de Economia deste ano reconhece o trabalho dos cientistas que ajudaram a esclarecer essa questão. Os norte-americanos Thomas Sargent e Christopher Sims desenvolveram e aplicaram com sucesso ao longo dos anos 1970 e 1980 métodos capazes de estimar, em curto e longo prazos, os efeitos de mudanças imprevistas ou programadas na economia.

Essas abordagens são comumente usadas por governos do mundo todo para orientar a definição de suas políticas econômicas

Além de se tornarem importantes ferramentas de pesquisa na área, essas abordagens são comumente usadas por governos do mundo todo para orientar a definição de suas políticas econômicas. Segundo a Real Academia Sueca de Ciências, embora Sargent e Sims tenham desenvolvido suas pesquisas independentemente, suas contribuições são complementares. Os pesquisadores vão dividir o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (cerca de 2,6 milhões de reais).

Os métodos criados por Sargent e Sims dedicam às expectativas um papel central na análise da dinâmica da atividade econômica, o que não era feito até então. As expectativas (previsões sobre preços, oferta, rendimentos, impostos etc.) têm grande impacto sobre as escolhas atuais das empresas e dos consumidores e, consequentemente, sobre o nível de atividade econômica global.

Ao mesmo tempo em que as expectativas do setor privado em relação à política e à atividade econômica influenciam decisões sobre salários, poupanças, preços e investimentos, as decisões de política econômica são guiadas por expectativas sobre desenvolvimentos no setor privado.

Thomas Sargent (1943-), hoje professor da Universidade de Nova Iorque (EUA), ajudou a entender essas expectativas racionais e a identificar essas relações recíprocas de causa e efeito. O resultado de seus estudos é um modelo que usa dados históricos para compreender como as mudanças sistemáticas na política econômica afetam a economia ao longo do tempo.

Investidores e bancos centrais
Relação recíproca de causa e efeito: ao mesmo tempo em que os investidores baseiam suas decisões em expectativas sobre o futuro da política econômica, os bancos centrais definem as taxas de juros com base nas expectativas sobre desenvolvimentos do setor privado. (ilustração: Real Academia Sueca de Ciências)

Além disso, Sargent foi pioneiro em estudos empíricos sobre formação de expectativas. Uma de suas grandes contribuições foi a análise de episódios de hiperinflação, combinada com lento crescimento da produção e alto desemprego, em diferentes países da Europa durante os anos 1970.

“Ele mostrou que, na hiperinflação, ocorrem mudanças na política monetária que levam o público a antecipar que a inflação vai acabar, o que faz com que ela acabe da noite para o dia”, explica o economista Fernando de Holanda Barbosa, professor da Escola de Pós-graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas.

Efeitos de mudanças inesperadas

Christopher Sims (1942-), atualmente professor da Universidade de Princeton (EUA), desenvolveu um método que usa o chamado vetor autorregressivo para analisar, com base em dados históricos, o impacto de mudanças inesperadas na economia sobre as diferentes variáveis econômicas (inflação, desemprego, preços, investimentos, produto interno bruto etc.) ao longo do tempo.

“Hoje os bancos centrais usam esse modelo para prever o que vai acontecer na economia”

O método de Sims foi aplicado para examinar, por exemplo, os efeitos de um aumento na taxa de juros definida pelo banco central. A conclusão é que, após essa mudança, normalmente leva um ou dois anos para a queda na taxa de inflação, enquanto o crescimento econômico cai gradualmente em curto prazo e só retoma seu desenvolvimento normal depois de alguns anos. “Hoje os bancos centrais usam esse modelo para prever o que vai acontecer na economia e antecipar se será necessário subir a taxa de juros”, exemplifica Barbosa.

Apesar das inúmeras aplicações bem-sucedidas desses modelos, o mundo ainda sente os efeitos da recente crise econômica internacional iniciada nos Estados Unidos. Para o economista da FGV, essa foi uma crise atípica e os pesquisadores da área ainda não dispõem de modelos capazes de entender completamente o que se passou.

“O conhecimento obtido a partir dos modelos de Sargent, Sims e outros autores ao longo dos últimos anos certamente evitou que essa crise se tornasse uma grande depressão, mas não foi suficiente para permitir que a economia retomasse o patamar anterior de emprego e produção”, avalia Barbosa.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line