Alerta aos acadêmicos desonestos

A cada ano, dezenas, centenas ou mesmo milhares – não se sabe ao certo – de trabalhos científicos são plagiados. Em tempos de internet, espertalhões de plantão têm facilidade para fraudar trabalhos e copiar autores sem ao menos citá-los. Mas, para cortar o barato, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) deu uma boa cartada: passou a adotar um software capaz de detectar tentativas de plágio.

A ferramenta é bastante simples. O docente, assim que recebe o trabalho do aluno – seja tese, dissertação, trabalho de conclusão de curso ou qualquer produção textual –, submete-o à avaliação do programa, que faz uma busca imediata em diversos bancos de dados para checar se aquela produção acadêmica encontra semelhanças notáveis com outros textos já publicados.

“Além das páginas rastreadas na rede, o sistema rastreia uma base formada por periódicos acadêmicos, documentos arquivados e livros de editoras parceiras”, diz Sandra Manzano, bibliotecária da Coordenadoria Geral de Bibliotecas da Unesp, em Marília (SP).

Em seguida, a ferramenta fornece um número correspondente ao índice de originalidade daquele trabalho – além de apontar possíveis referências on-line que o aluno pode ter utilizado para basear sua redação.

Prova real

Será que funciona mesmo? Para colocar o sistema à prova, a Ciência Hoje submeteu aos docentes da Unesp três pequenos textos: um original, um totalmente surrupiado e outro plagiado no conteúdo, porém mascarado na forma.

O programa acertou na mosca: acusou as duas tentativas de plágio deflagrando baixo índice de originalidade (“99% de similaridade” para uma, e “85% de similaridade” para outra), enquanto o trecho original passou no teste (com o resultado “0% de similaridade”). Programa aprovado.

Turnitin
O Turnitin, além de produzir relatórios de originalidade, integra métodos de correção, lançamento de notas e serviços diversos que permitem maior interação digital entre alunos e professores. (imagem: Unesp)

“É ótimo que um software possa produzir um relatório de originalidade”, comenta Loriza de Almeida, professora da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp e nova usuária da ferramenta. “Em um mundo ‘Ctrl C + Ctrl V’ isso é bastante útil”. Segundo ela, o programa facilita a correção por parte do docente e dá mais credibilidade ao trabalho do discente.

Loriza de Almeida: “É ótimo que um software possa produzir um relatório de originalidade. Em um mundo ‘Ctrl C + Ctrl V’ isso é bastante útil”

Fabricado por uma empresa norte-americana, o sistema adquirido pela Unesp é o Turnitin, usado atualmente em diversas instituições dos Estados Unidos. Foi implementado em 2010 e, após período de testes e adaptação, está agora aprovado pelos usuários.

Nenhum caso de plágio foi detectado até o momento, “e a utilização do programa tem sido mais no sentido de prevenir e orientar o aluno quanto à maneira correta de fazer citações”, explica Manzano.

Brechas no sistema

Nenhuma ferramenta é perfeita. Ainda que eficiente, o Turnitin tem lá suas limitações. O programa pode, sim, deixar passar algumas fraudes sintáticas ou semânticas de larápios intelectuais mais sofisticados. Afinal, as formas de plágio são muitas, e as brechas no sistema podem ser alvos certos para o acadêmico seduzido pela via da perversão.

O Turnitin leva em conta somente bancos de dados disponíveis na rede

Outro revés: o sistema funciona melhor para textos em língua inglesa – mas a tendência é que as buscas em português sejam aperfeiçoadas ao longo do tempo.

A ferramenta, portanto, não promete a solução definitiva para o problema do plágio – uma crescente preocupação no meio acadêmico –, mas deve, ao menos, dificultar em alguma medida a vida de acadêmicos desonestos.

Henrique Kugler
Ciência Hoje/ RJ

Este texto foi atualizado para incluir a seguinte alteração:
Diferentemente do que havíamos informado, o Turnitin utiliza para checagem de originalidade, além das páginas abertas rastreadas na rede, uma base formada por documentos arquivados, periódicos acadêmicos e livros de editoras parceiras. (25/09/2012)