Antártica? Ali ao lado

Sim, o Brasilé um país tropical e bonito por natureza.Mas não é só porque temos um longo verão na maior parte de nosso território que devemosesquecer o frio que vem lá de baixo.

Os processosambientais na Antártica têm grande influência no clima e na biodiversidadedos oceanos brasileiros, lembram um glaciólogo, uma oceanógrafa e um geofísicoem simpósio da reunião anual da SBPC, que acontece esta semana em Natal. O objetivo das apresentações eradesmistificar a ideia de que a Antártica está longe e não tem relações diretascom o Brasil.

Algumas cidades do Sul ficam mais perto da Antártica do que da Amazônia

Não por acaso:parte do Sul do país fica mais perto do continente gelado do que da própriaAmazônia. “A distância da estação brasileira na Antártica até Chuí éde 3.172 km”, explica JeffersonSimões, o primeiro glaciólogo brasileiro, àCH On-line. “De Chuí a Porto Velho, em Rondônia, são 4.177 km!”

Simões relata ainda outro fato curioso para comprovar como a Antártica é nossa vizinha. Cercade três vezes ao ano, uma massa de ar frio vinda desse continente adentra oterritório brasileiro e causa uma queda brusca de temperatura no Acre, a maisde seis mil quilômetros de distância do seu ponto de origem.

 

Mudanças lá, reflexos aqui

Porto Velho, Chuí e Antártica
Embora não pareça, o município de Chuí (em lilás) fica mais perto da base brasileira na Antártica (em vermelho) do que de Porto Velho, em Roraima (reprodução/Google Maps).

O geofísico Heitor Evangelista, da Universidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj), apresentou resultados de estudos que comprovam a influência dasvariabilidades climáticas e glaciais da Antártica na América do Sul.

Um dessesestudos analisou a concentração de metais nos últimos séculos da península antártica.

Descobriu-se que a concentração de alumínio nessa região mais que dobrou durante o século 20. Esse dado coincide, segundo os cientistas, com o aumento de um grau na temperatura média do hemisfério sul: um padrão que tem paralelo com a desertificação na Patagônia e no norte da Argentina.

Já outro estudo aponta quea quantidade de gelo na Antártica está ligada à formação de ciclonesna América do Sul. No verão, quando há menos gelo, a formação de ciclones no continente americano é menor, e vice-versa.

Os motivos por trás dessas ligações, no entanto, ainda são desconhecidos. “De que forma acontecem essascorrelações ainda é uma questão em aberto”, explica Evangelista.

Já oceanógrafaLúcia de Siqueira Campos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) emembro do Comitê Nacional de Pesquisas Antárticas, apresentou o intercâmbioentre a incrível biodiversidade dos oceanos antárticos e o ecossistema marinhoda América do Sul.

Essas trocas,segundo ela, podem estar ameaçadas por causa do aquecimento acelerado da penínsulaantártica. Cabeaos cientistas investigar de que forma essa mudança de temperatura nocontinente pode transformar os mares dali – e, quiçá, também os brasileiros.

Isabela Fraga
Ciência Hoje / RJ

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