Arte na cabeceira

Formar artistas e informar os amantes da arte. Assim Claudia Saldanha, diretora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), no Rio de Janeiro, define a revista Portfolio, lançada em janeiro último. Veiculada exclusivamente em formato digital, a publicação traz reflexões sobre várias áreas da arte contemporânea de modo a propiciar uma experiência lúdica e multitoque em tablets.

Reportagens, ensaios, vídeos e fotos abordam temas do cinema, teatro, música, artes visuais, literatura e poesia. Produzidos por artistas, jornalistas e professores de arte, estimulam o leitor a interagir com o conteúdo, inclusive a criar uma diagramação personalizada.

Tudo com um olhar mais reflexivo do que informativo. Esse caráter, diz Saldanha, foi algo pensado: “A escola já tem uma plataforma de informação, que é o site. Queríamos, porém, um veículo mais aprofundado”. Para isso, a periodicidade será mais espaçada. “Preferimos que o intervalo entre as edições demorasse um pouco mais para garantir conteúdo mais duradouro.”

“A escola já tem uma plataforma de informação, que é o site. Queríamos, porém, um veículo mais aprofundado”

Assim, a decisão do conselho editorial – formado pelos artistas Anna Bella Geiger e Ricardo Basbaum; pelos professores Flora Süssekind, Angela Leite Lopes, Glória Ferreira, Charles Watson e Lilian Zaremba; e pelo crítico de cinema Carlos Alberto Mattos, além de Claudia Saldanha e da editora Marília Martins, jornalista responsável pelo projeto – foi produzir apenas três edições anuais, mas cada uma delas com prazo de validade dilatado. “Portfolio pretende ser uma revista de cabeceira”, revela a idealizadora.

O caráter reflexivo segue de mãos dadas com o objetivo educacional da instituição: “A escola tem como compromisso formar artistas e o público que quer entender mais sobre arte contemporânea e interagir com ela. A revista é um espelho da EAV”, diz Saldanha.

Apesar do vínculo, a proposta é que a revista apresente mais conteúdo produzido fora dos muros da escola do que dentro. O primeiro número dedicou 30% de seu conteúdo à instituição contra 70% para o resto do país. “Essa mistura é importante – é preciso ter algo sobre a escola, continuando o processo de aprendizado dos alunos, mas também visar o público externo”.

A diretora da EAV informa que, em 30 dias, 7 mil pessoas acessaram o conteúdo da revista, que teve 500 downloads no mesmo período.

Softwares livres

A ideia de criar a revista surgiu logo no início da gestão de Saldanha, em 2009. Ela sentia falta de um produto que falasse sobre arte de modo mais abrangente, mas queria uma publicação digital. O principal motivo dessa opção era o alto custo de uma revista impressa de qualidade. A escola já produz impressos de suas exposições e galerias internas.

Durante as pesquisas para a concretização da ideia, a equipe descobriu que o virtual também pode sair caro: “Chegamos a orçar a criação de softwares com três empresas diferentes. O preço era inviável”, lembra Saldanha.

A solução veio da jornalista Marília Martins, que foi à EAV no começo de 2012 ministrar um curso sobre arte e tecnologia. Ela apresentou alguns softwares livres prontos para uso, cujo único custo era a instalação, bem mais acessível. O passo seguinte foi a produção de conteúdo, que contou, no número experimental, com a colaboração dos funcionários, professores e alunos da EAV.

A produção do número de estreia durou cerca de seis meses e o destaque ficou para os novos museus do Rio de Janeiro – o Museu de Arte do Rio (MAR), recém-inaugurado, o Museu da Imagem e do Som (MIS) e o Museu do Amanhã, programados para o ano que vem.

Museu da Imagem e do Som
Projeto do novo prédio, em Copacabana, onde funcionará o Museu da Imagem e do Som – um dos novos espaços culturais cariocas que mereceram destaque no primeiro número de Portfolio. (imagem: MIS)

Próximos números

A revista pode ser baixada gratuitamente através do iTunes e da Android Market, sendo compatível com os sistemas operacionais iOS acima de 5.0 e Android. A próxima edição da Portfolio será lançada em maio e a última do ano entre outubro e novembro.

O conselho editorial já programa novidades: “Queremos que pelo menos as matérias principais sejam bilíngues – traduzidas para inglês – e com linguagem mais leve e enxuta”, conta a diretora da EAV. “Outro desafio vai ser contratar autores para escrever matérias com mais profissionalismo.”

“A publicação virtual tem uma rapidez que a impressa não tem e permite uma difusão muito mais ampla, rápida e barata”

Uma boa notícia para quem não possui tablet é o site da revista. A experiência não é a mesma, mas o conteúdo está disponível na íntegra. A diretora se mostra satisfeita com o resultado e acredita no poder do meio digital: “A publicação virtual tem uma rapidez que a impressa não tem e permite uma difusão muito mais ampla, rápida e barata”.

Camille Dornelles
Ciência Hoje/ RJ