Divulgar a ciência feita nas universidades e outros centros de pesquisa para a sociedade é uma tarefa fundamental para todo cientista. Por isso, o Instituto Ciência Hoje colocou toda a sua experiência nessa área à disposição de um projeto internacional que visa à criação de novos fármacos e reúne instituições de cinco países. Como parte dessa colaboração, profissionais do ICH estão dando treinamento em divulgação científica a uma jovem pesquisadora portuguesa que veio ao Brasil para expandir seus conhecimentos.
O projeto, chamado Inpact, tem como objetivo o desenvolvimento pré-clínico de fármacos inovadores específicos para determinados tipos de câncer e bactérias patogênicas. Para isso, reúne conhecimento e tecnologias provenientes tanto de universidades como de empresas de vários setores, proporcionando um ambiente de cooperação muito propício à criação dos novos fármacos.
O consórcio, que teve início em fevereiro de 2015 e vai se estender até janeiro de 2019, envolve Austrália, Espanha, Estados Unidos, Portugal e Brasil. São, no total, seis parceiros acadêmicos, três empresas de biotecnologia – que providenciam suas próprias plataformas tecnológicas para que se desenvolvam fármacos inovadores –, e o ICH, que participa como centro de divulgação científica.
Essas parcerias formam um ambiente perfeito para jovens pesquisadores adquirirem conhecimentos e competências em ciência, tecnologia, empreendedorismo e comunicação, seja por meio de formação ou de períodos de trabalho em outro país ou no setor privado. A iniciativa contribui, assim, para que pesquisadores em início de carreira desenvolvam proativamente o seu percurso profissional e tenham acesso a experiências que lhes permitam explorar todo o seu potencial. Além de promover o crescimento profissional, o projeto busca estimular a formação de uma rede de contatos e a partilha constante de aprendizados.
De Portugal para o Brasil
Uma das pesquisadoras que mais têm aproveitado as oportunidades oferecidas pelo Inpact é a neurocientista portuguesa Margarida Martins. Licenciada em Biologia Humana pela Universidade de Évora (Portugal) e mestre em Neurociências pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, ela atualmente trabalha na entidade que coordena o projeto, o Instituto de Medicina Molecular (iMM), também localizado em Lisboa.
Assim que acabou o mestrado, em fevereiro de 2016, a neurocientista passou a atuar nas mais diversas áreas da ciência, percorrendo laboratórios acadêmicos e empresas biofarmacêuticas pelo mundo, sob a orientação do bioquímico Miguel Castanho, pesquisador do iMM e coordenador do projeto Inpact. Sua primeira parada foi a Universidade Stanford, na Califórnia (EUA). Depois, visitou laboratórios de pesquisa nas ilhas Canárias e em Barcelona (Espanha).
A neurocientista portuguesa Margarida Martins, do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, tem visitado laboratórios ao redor do mundo como parte do projeto Inpact. Ela agora está no Brasil para uma temporada de 3 meses no ICH e na UFRJ. (foto: arquivo pessoal)
Agora, a pesquisadora está no Brasil, para uma temporada de 3 meses em que se dividirá entre o ICH e o outro parceiro do Inpact no Brasil, o Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Como parte de seu treinamento em divulgação científica, ela mostrará ao público brasileiro o que tem sido feito, tanto no Brasil quanto no exterior, no âmbito do projeto Inpact. “Para o Instituto Ciência Hoje, participar do projeto formando jovens pesquisadores para divulgar ciência é um importante reconhecimento à nossa experiência de mais de três décadas nesta área. Entendemos também que dar visibilidade às ações desse consórcio, que contempla a relação entre instituições de pesquisa e indústria, é um meio de promover a revisão de conceitos e preconceitos sobre essa aliança”, diz Bianca Encarnação, superintendente executiva do ICH.
Entre divulgar e pesquisar
Além de realizar atividades de divulgação científica no ICH, a neurocientista irá desenvolver um projeto, sob a orientação da bioquímica Andrea T. Da Poian, no Laboratório de Bioquímica de Vírus do IBqM/UFRJ. Da Poian e Miguel Castanho lideram grupos de pesquisa que vêm colaborando há mais de 10 anos em estudos sobre a interação de proteínas virais e as membranas celulares.
“Um desses estudos nos levou à descoberta de segmentos [chamados peptídeos] de uma das proteínas do vírus da dengue que apresentam a capacidade de atravessar membranas celulares, transportando consigo outras moléculas”, conta Da Poian. “A caracterização desses peptídeos serviu como uma das bases para a proposta do projeto Inpact (Innovative peptides against cancer and pathogenic bacteria, with advances in science, biopharmaceutical drug development, product market targeting, training, and communication), que tem como um de seus objetivos desenvolver, a partir desses peptídeos, agentes antimicrobianos (já que eles podem romper as membranas de bactérias, causando sua morte) ou moléculas capazes de carregar drogas, por exemplo, através da barreira hematoencefálica (que separa a circulação sistêmica do sistema nervoso central), permitindo sua ação de forma localizada”, acrescenta.
Os avanços já obtidos nos estudos do IBqM/UFRJ associados ao projeto Inpact serão divulgados aqui nas próximas semanas, durante a estadia de Margarida Martins no Rio de Janeiro. A portuguesa em questão – que, a propósito, é a pessoa que vos fala – também contará o que tem feito em suas visitas aos laboratórios e centros de pesquisa ao redor do mundo.
Margarida Martins
Instituto de Medicina Molecular (Lisboa/ Portugal)
Especial para CH On-line