Balanço da Campus Party, um evento com eco

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Palestras ocorriam simultaneamente na Campus Party. Debates foram do futebol à robótica (Foto: Fabio Pazzini/Flickr).

 

Olá. Volto aqui, dois dias depois do final da Campus Party, para dar minha impressão final sobre o evento e falar um pouquinho sobre o que ficou faltando. Ficou faltando por um motivo que, aliás, cabe explicar: peguei a tal virose paulista sobre a qual já tinha lido a respeito dias antes de chegar no estado. O que os médicos me disseram é que ela teve início no litoral de São Paulo e agora começa a alcançar a capital. Pois é, a virose parece ter escolhido a dedo um carioca para contaminar.

Sem mais lamúrias.

Gilberto Gil fala sobre banda larga enquanto acadêmicos discutem blogues

O jeito de olhar sempre é direcionado pelo meio através do qual vemos. Como na quinta-feira já havia começado a ficar doente, preferi continuar de casa o trabalho (do apartamento do meu irmão em São Paulo, na verdade). E recorri, claro, à internet e à mediação do computador. Embora já soubesse que a Campus Party tinha um canal transmitindo todas as mesas e palestras, ainda não tinha visitado a página. E foi por lá que me virei. Assisti a várias palestras ao mesmo tempo – Gilberto Gil falando em uma janela sobre a banda larga no Brasil enquanto, na outra, acadêmicos discutiam como anda a pesquisa teórica sobre blogues no país. Inclusão e especialização sendo tratadas ao mesmo tempo e no mesmo lugar.

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Gabinetes e computadores modificados. A foto registra a arte de um fã de Lost. O movimento de customização das máquinas é chamado de ‘Modding’ (Foto: Campus Party MT/Flickr).

 

No Twitter, milhares de pessoas – de dentro e fora do evento – escreviam sobre o que estavam vendo. Bastava seguir as palavras-chaves #cpartybr, #cparty e #campusparty para ler o que todo mundo digitava. E eu, longe, estava informado. Ocorreu-me, inclusive, o estranho pensamento de que ali, distante, conseguia ter um panorama mais completo daquilo que acontecia no evento do que se estivesse lá. Claro, perdi a atmosfera, a barulheira, as luzes e os pequenos-grandes personagens; mas ganhei lugar privilegiado para observar. Dificilmente teria a calma de seguir os canal de TV e o Twitter se estivesse no Centro de Exposição Imigrantes, local do evento.  

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Milhares de pessoas optaram por acampar no local durante a semana (Foto: lia_carreira/Flickr).

Pude notar também que, pela primeira vez, desde que o evento acontece em São Paulo, a ‘mídia convencional’ (se é que este termo ainda cabe) parece ter feito uma cobertura mais séria da Campus Party. Parou com aquele tratamento ‘coisa de nerd’  e passou a levar um pouco mais a sério o que era falado ali. Por mais de um dia, o Jornal da Globo deu matéria e fez entrevista com os participantes. É claro que o foco da grande mídia foram os convidados mais badalados, como o ex-hacker mais famoso do mundo ou o marqueteiro do Obama.  Mas ao menos a temática não recaiu sobre os nerds, os supernerds, os excêntricos, os gênios etc., como se aquilo tudo fosse um gueto desimportante para o resto do mundo.

Finalmente, a Campus Party ecoou para fora dela. Dilma passou por lá, Marina Silva também. Angariaram votos, como o candidato que vai aonde é importante ir.

O evento é muito maior que um gueto

E a verdade é que o evento é muito maior que um gueto. Quem é da área de humanas pôde acompanhar diversos debates – de quadrinhos a política, passando por futebol e design. A turma de exatas aprendeu com programas de computador, robótica e debate com blogueiros de ciência (nossos velhos conhecidos). Nem vale se estender tanto nos exemplos, pois eles também serviriam, de algum modo, para separar nicho. A Campus Party vai aprendendo, ano a ano, que é melhor abrir e não estreitar caminhos.

Prova disso é a notícia pouco divulgada, mas já confirmada: 100 cidades brasileiras serão visitadas por uma espécie de Campus Party itinerante. O objetivo maior é promover a inclusão digital destes locais, a maioria com carências na área. A ideia é ecoar.

O que pareceu estranho

 

Seguem algumas pílulas daquilo que me soou estranho nos dias em que estive na Campus Party. Algumas reclamações de difícil solução, outras nem tanto.

    Para um evento que propõe a celebração da cultura livre, poucos debates sobre o tema aconteceram. E, impossível não notar, aumentou o número de patrocinadores que não compactuam com os preceitos de uma nova política cultural e de mercado na internet.A falta de organização na hora do credenciamento dos participantes e do laptop dos mesmos.O preço exorbitante que se pagou para se alimentar no local e a falta de opção de comida.A exagerada segurança, que pedia para todos os participantes mostrarem a confirmação do cadastramento do laptop sempre que se saía da área de exibição para a de alimentação. Obrigação insuportável no decorrer de uma semana.A acústica do local. Muitas vezes era difícil ouvir o que se falava em um debate enquanto outra palestra acontecia ao mesmo tempo. Polifonia incômoda.

 

Destaque na cobertura

 

Como disse, a sensação que ficou é que a Campus Party reverberou. Muito em função de uma cobertura midiática mais diversa e atenta. Fica a dica das nossas maiores fontes durante este tempo do evento, uma turma que esteve por lá e tentou, cada um à sua maneira, mostrar a diversidade de assuntos debatidos. Vale visitar o blogue da Campus Party, o Flickr do evento, o blogue Subestagiários e as páginas IDG Now e Link, do Estadão.

 

Assista a um passeio aéreo pela Campus Party

 

Este é o meu último texto sobre a Campus Party. Os dias que se passaram foram bem legais, mesmo com uma virose chata no meio de tudo. Experiência ótima e inédita para mim também: pela primeira vez participei de uma cobertura em tempo real de um evento. Esse era um dos nossos objetivos quando criamos o Bússola. O que só nos deixa mais animados para outra cobertura do tipo. Até lá!


Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line