Nanotubos de múltiplas camadas (A) e de uma única camada (B)
Toma explicou que a relação de grandeza entre uma molécula e o homem é a mesma do homem e da Terra. “A diferença é cerca de dez elevada a sétima potência. Esse mundo namométrico abre um leque muito grande de possibilidades para a ciência.”
O pesquisador mostrou que, apesar de parecer muito recente, a nanociência já era pensada há quase 50 anos. “Em 1959, o Nobel Richard Feynman, durante uma palestra, disse que estava para nascer um novo mundo e que se poderia escrever a Encyclopaedia Britannica na cabeça de um alfinete. Eu diria que ele foi até humilde. Pode se escrever em menos espaço ainda.”
Como exemplo da capacidade de compactação da informação por processos nanotecnológicos, ele citou um produto da IBM do tamanho de um selo postal e com capacidade de armazenar 100 GB.
O professor contou que conseguiu — após muitas conversas — convencer seus colegas da USP de que a nanotecnologia está intrinsecamente ligada a diversas outras disciplinas como economia, computação, engenharia, matemática, química, física, biologia, saúde e ambiente. “Ela está no centro. A computação sofrerá uma revolução.”
Para exemplificar o que está por vir, Toma enumerou alguns produtos nanométricos que já estão sendo comercializados, como a película que evita riscos em óculos, os vidros auto-limpantes, materiais para acompanhamento de tumor e as nanodrogas, que podem ser comandadas por magnetismo e com isso serem melhor administradas.
A seguir, leia trechos da entrevista dada pelo pesquisador ao JC e-mail:
No final de sua palestra, você disse que o Brasil não pode perder o bonde da nanotecnologia como perdeu o da microeletrônica. Estamos perto disso?
É difícil dizer. A comunidade científica esta consciente. Isso eu garanto que está, mas ela está sem força, sem aparato, sem meios para fazer isso. A comunidade está organizada, mas ela está pobre, ela não é competitiva e a indústria não acordou ainda. E a indústria é que tem que injetar dinheiro para esse setor.
Além da indústria, o governo também deve investir em nanotecnologia?
As duas coisas. Mas primeiro a indústria, porque nanotecnologia é produto e produto interessa a indústria.
Há alguma empresa investindo significativamente em nanotecnologia no Brasil?
As empresas não sabem o que é nano. Tem que começar com um processo de educação científica. Tem que se explicar para o empresário o que é nano e onde ele pode ter vantagem e interesse nisso. Governo e empresa têm que andar juntos, mas hoje a defasagem está no setor empresarial.
Quais são os pontos mais promissores dentro da nanotecnologia?
Todos, não há diferenciação. A área biológica é muito forte. A área de materiais é a que hoje aparece mais, porque é mais próxima e já há muitos produtos. A eletrônica vai demorar mais uns cinco anos, mas vai ser a de maior impacto. Essas são as áreas fundamentais. Mas junto com a nano, todo o perfil da ciência vai mudar. São novas preocupações e uma nova maneira de ver a ciência.
O Brasil já tem alguma patente na área?
Tem muita coisa sendo feita, muitas patentes depositadas, mas produtos não. Mas esta ainda é uma área nova. O mercado existe há apenas cinco ou dez anos e agora é que está crescendo rápido.
Luís Henrique Amorim
Jornal da Ciência
21/07/04